Certa vez me deparei ali, no meio da praça, com uma dura
realidade. Aquela praça onde eu brincava há tanto tempo estava encolhendo!
Fiquei por muito tempo observando e quanto mais observava, mais ela diminuía
de tamanho. À medida que essa constatação ficava evidente para mim, parecia que
menos eu brincava e mais me angustiava.
A praça foi encolhendo, encolhendo e quando parou de
encolher, também parei de brincar ali.
Eu ficava pensando, como podia acontecer aquilo? Com
certeza deveria haver uma explicação, pois praças não encolhem; nunca ninguém me
falou disso, nem mesmo os meus pais.
Até o imenso banco que havia encolheu! Eu e mais uns cinco
amigos ficávamos sentados, brincando com as garotas que passavam.
Hoje devem caber no máximo uns três. O tempo foi passando e
cada um foi estudar e morar para o seu lado.
Eu mudei, os amigos e as garotas também, porém a praça
continua no mesmo lugar, só que para mim hoje em seu real tamanho.
A criança se foi e a maturidade me colocou vendo as coisas com
suas dimensões reais. Muitas vezes é difícil esta situação, mas ela é
necessária para enfrentarmos a vida que é implacável e totalmente compromissada
com a realidade nua e crua.
Sem rodeios ou fantasias, o amanhã dependerá, uma parte, das
minhas atitudes de hoje.
A outra não há o que fazer a não ser aceitar minha impotência
humana.
Virá independentemente do que eu fiz, faça ou deixe de
fazer.
Diante de tudo isso, talvez um dia, meu corpo frágil e
debilitado pela velhice possa novamente acreditar que a praça esteja voltando a
crescer.