Mauricinho acabara de sair da casa de Alicinha.
Estava feliz, sentindo o gosto da vida!
Embora a rua não possuísse nenhum poste, no entanto a luz da
lua cheia o ajudava no seu solitário e difícil caminho de volta.
Valentia não era o seu forte e para piorar a sua situação
tinha um medo danado de qualquer assunto que tivesse ligação com o além.
Já tinha se esbaldado com o filé e agora o que lhe restava era
maltratar a digestão descendo aquele tétrico beco íngreme até chegar à rua onde
pegava o lotação.
Lembrou-se que quase morreu de medo quando foi se encontrar
com Alicinha no primeiro dia de namoro.
Só não desistiu do namoro porque a garota era de deixar até o
mais exigente dos garotos babando.
Sua autoestima sempre foi seu tendão de Aquiles, ou seja nos
pés e assim sendo, não se sentia autorizado a grandes escolhas.
Alicinha era o bilhete premiado que sempre pediu a Deus.
Mesmo num lugar ermo e inóspito como aquele, Alicinha
realmente valia o sacrifício. Com esses pensamentos, Mauricinho ia garantindo
uma força extra para manter-se no namoro e também de não se borrar todo durante
aquele percurso.
Mauricinho se deu conta de que já era meia noite quando
escutou o badalar do sino de uma igreja bem longe dali.
Começou a se questionar porque não saiu mais cedo da casa de
Alicinha conforme fez na noite anterior. Chegou a questionar o porquê namorar aquela
Alicinha se tinha tantas outras “Alicinhas” por aí.
Embora amedrontado, por outro lado sentia-se aliviado por já estar
bem próximo do ponto de ônibus. Foi quando avistou uma figura sinistra, toda
vestida de negro e que vinha em sua direção.
Tentou raciocinar, colocar uma ordem em seus pensamentos. Não
conseguia entender de que local poderia ter vindo àquela macabra criatura.
Parecia ter surgido do nada e se materializado ali, justamente vindo em sua
direção.
Mergulhado numa infernal paúra e sem qualquer sentimento de
dúvida, ele deu um “cavalo de pau” e voltou novamente para o beco. Só que desta
vez, morro a cima.
Sabem como é a história morro a baixo é uma coisa, mas a cima
é outra bem diferente.
Nessa inversão súbita de rota Mauricinho colocou entre outras
coisas, também o bofe todo para fora. Sua situação era deprimente.
Só ganhou forças e colocou novamente tração nas pernas quando
percebeu que o monstruoso “dito cujo” estava se aproximando.
Quando já estava diante da casa da bela Alicinha, ele se
desfaleceu e ali ficou até o amanhecer.
Foi se recobrando aos poucos em função da luz dos primeiros
raios de sol e dos burburinhos dos que desciam para o trabalho.
Sentia-se além de borrado, um perdedor.
Não tinha coragem de recorrer a Alicinha e simplesmente retornou
a pé para casa.
Os dias foram se passando e nada de Mauricinho retornar a casa
de Alicinha.
Alicinha foi procurar por ele, soube que havia se mudado, não
deixou o novo endereço e nunca mais o viu.
Conforme o velho ditado:
“quem não está disposto a enfrentar certas dificuldades na vida, nunca terá a
satisfação de viver” com uma encantadora Alicinha.