Em frente à janela da minha sala de trabalho plantei orquídeas
em placas de fibra de coco.
Suas raízes vão dia a dia penetrando com vigor nas fibras,
dando vida e sustentação àquelas maravilhosas plantas. Delicio-me com a beleza
de suas flores. Foi olhando para esse cenário que me transportei para a minha
pequena Santa Branca. Tão querida quanto a terra que nasci. Foi lá que passei
momentos deliciosos da minha infância e adolescência.
Hoje percebo que aquelas vivências estão todas emaranhadas em
minhas lembranças como as raízes daquelas orquídeas.
Plantas tão cheias de perfume e beleza que não podem jamais
serem deixadas ao descuido, assim como as amizades, os amores e as lembranças.
Lembro-me da imagem de muitas pessoas, do modo de cada uma
delas, de seus hábitos e costumes. São nítidos os detalhes das casas, ruas,
bairros, inclusive das estradas que leva Santa Branca às cidades mais próximas.
Algumas delas passei tantas vezes que tenho o traçado de cada reta, curva e até
mesmo das distâncias entre um lugar a outro.
Certos pontos da estrada tinham um perfume tão nítido de
eucalipto com um delicioso frescor de sombra e paz. Outros tinham estábulos com
o cheiro próprio do gado, com o seu devido encantamento natural. Alguns
exalavam em dias de chuva, um perfume indescritível de terra molhada.
Cores e sons também ficaram nítidos na lembrança. De animais,
pássaros e borboletas coloridas, de carro de boi, de monjolo, de roda de
moinho, e tantas mais. São por essas e outras que posso dizer sem reservas, que
essas plantas tão lindas estão impregnadas de vivências tão queridas.