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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Só EU



O narcisista é um egoísta contumaz
Espera sempre do outro
Pelo outro nada faz

Viver..., deseja também
Do jeito que lhe convém
Mesmo com o sacrifício de alguém

É uma terra ruim!
Que não floresce uma rosa
Muito menos um jardim

  

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Os mentecaptos voltaram?




Um ano antes numa grande cidade, representantes das nações mais desenvolvidas da Terra reúnem-se secretamente em assembleia.
- Senhores esta “Organização” encontra-se reunida para definir o destino da Terra.
Pensávamos que as drogas ou o uso da internet com finalidades malévolas fossem os maiores inimigos da humanidade, porem nossos cientistas chegaram a uma outra conclusão.
Informam que o nosso maior inimigo, com um poder terrível de destruição são os “Mentecaptos”.
- “Mentecaptos”?
- Afinal de contas quem são esses “Mentecaptos” que nossos especialistas em defesa de estado nunca fizeram menção?
- O relatório diz que “Mentecapto” é um tipo de pessoa.
- Como assim? (Perguntam todos indignados)
- São dissimulados e nocivos a sociedade. Capazes de trair e roubar o povo sem o menor escrúpulo. Por serem tão calculistas e frios de sentimentos, se tornam “incorrigíveis”. Lesam a família, o povo, toda a nação, o mundo.
- São mais destrutivos que uma bomba atômica?
- Sim! O relatório diz que fazem toda a sua destruição na “surdina”, “na calada da noite”, traiçoeiramente. Possuem um constante sorriso no rosto, rápidos nas justificativas, poder de oratória e traiçoeiros.
Capazes de se utilizar de tudo para obter vantagens, privilégios, dinheiro e poder. 
Depois de muito tempo, a triste conclusão foi que para salvar a muitos, os “Mentecaptos” teriam que ser sacrificados.
A guerra aos “Mentecaptos” foi determinada por unanimidade por todos os presentes daquela conflituosa assembleia.
A operação de extermínio a “peste” foi deflagrada.
Os serviços secretos desses países foram acionados e fizeram um levantamento mundial quanto a localização e identificação dos líderes dos “Mentecaptos”.
O mal teria que ser cortado na raiz e os ramos sucumbiriam sem vitalidade.
Como o assunto era prioridade extrema, um mês depois uma nova assembleia foi marcada e uma ampla relação de nomes apresentados.
Ficaram espantados com as estatísticas, pois a densidade demográfica de “Mentecaptos” em um certo país do terceiro mundo era inacreditável, por isso elegeram-no para sediar toda a operação de erradicação.
Todo o alto escalão de “Mentecaptos” da Terra foram convocados para um luxuoso evento no paradisíaco local sede. Todas as despesas de viagem, hospedagem e outras regalias mais, seriam pagas pelos patrocinadores, situação essa capaz de cevar com incrível facilidade qualquer “Mentecapto” nato.
No dia principal do evento, 25 de dezembro de 2015, estavam todos ali se aproveitando da esbórnia, quando foram convidados para um deslumbrante passeio aéreo turístico.
Teve queima de fogos e muitos discursos.
Houve até briga entre eles para pegar os melhores locais na janela, e não ficou um fora daquela imensa aeronave.
A aeronave partiu!
Os patrocinadores daquela bizarra “viagem de recreio”, membros da secreta organização sorriram aliviados, festejando o presente que estavam dando para a humanidade.
Eram os únicos que sabiam que aquela aeronave tinha uma autonomia e programação para deixar o planeta e nunca mais retornar. Que os “Mentecaptos” estavam sendo despachados para o além.  
No dia 25 de dezembro do ano de 5.706 as mídias de todo o mundo anunciavam a aparição de um objeto voador muito estranho que surgiu de repente, fez um voo rasante e pousou.
Parecia uma aeronave muito antiga. Mas como poderia ainda estar voando?
Os órgãos públicos foram imediatamente acionados para identificar e proteger a população daquele estranho objeto.
Profissionais de diversas áreas foram requisitados para uma ação conjunta.
O Prof. Doutor Astrogildo Marcianus do Museu Central, ao ver aquele objeto ficou maravilhado com o seu estado de conservação. Uma verdadeira preciosidade.
De onde veio e o que fez pousar ali daquela maneira?
A aeronave já estava estacionada por várias horas e nada da porta se abrir.
A expectativa era grande para que aparecesse alguém.
Seria uma nave não tripulada que ficou vagando pelo universo?
Como ninguém dava sinal de vida, foi decidido a introdução de nano câmeras com fones no interior daquela estrutura. Não danificaria a nave e favoreceria as pesquisas quanto a sua procedência.
Verificaram que dentro da nave haviam seres vivos, com formas semelhantes as nossas e muito agitados.
O resultado foi pior, pois aqueles seres desconhecidos ficaram ainda mais agitados com as câmeras. Eles falavam um idioma totalmente desconhecido.
Solicitaram então a intervenção de um especialista em línguas, incluindo as mais primitivas, porém não houve êxito na comunicação.
Enviaram aqueles sons para o laboratório linguístico pois poderiam estar criptografados.
A conclusão dos especialistas foi espantosa. O que se ouvia era algo parecido com uma língua extinta a milhares de anos.
Aí foi que a curiosidade tomou imensas proporções.
Como podia aquilo?
Nos dias atuais não havia mais distinção de países e o idioma falado por todos na Terra é o Terres - versão 5.7, muito diferente dos idiomas da antiguidade.
Em função disso o Prof. Dr. Astrogildo resolveu utilizar um aparelho de comunicação simultânea. Na verdade, esse aparelho era muito antiquado, mas naquelas circunstâncias talvez fosse eficiente.
Já havia passado mais de doze horas que aquele estranho objeto apareceu e a falta de uma resolução por parte dos órgãos públicos era imperdoável.
O mundo atual vivia com respeito e dignidade uns para com os outros a ponto de não haver polícias e nem forças armadas.
A eficiência de todos os órgãos públicos era impecável. Tudo funcionava com admirável requinte de técnica e precisão.
Já conheciam grande parte do universo inclusive outras nações intergalácticas também evoluídas, porem algumas muito distantes ainda eram desconhecidas.
O professor falou as primeiras palavras e a máquina desempenhou a sua função muito bem.
- Olá, quem são vocês?
Após a terceira tentativa ouviu-se o retorno dos “visitantes”.
- Onde estamos? Quem são vocês?
O professor e todos que acompanhavam o fato embora ainda indignados, sentiram um grande alívio.
As autoridades solicitaram que saíssem sem preocupação e informaram que eles seriam submetidos a um processo de descontaminação.
O que mais chamou a atenção foram as suas roupas de voo tão esquisitas e inapropriadas.
Foram colocados confortavelmente em um amplo recinto, isolados por paredes de vidro, diante de uma plateia de cientistas e membros do alto escalão do governo.
Em cada visitante foi colocado um nano chip subcutâneo, para fazer automaticamente a tradução. 
Os “viajantes” estavam muito irritados com aqueles procedimentos todos e ao mesmo tempo encantados com o luxo e modernidade tecnológica que viam, porém não entendiam nada.
Antes que o Prof. Dr. Astrogildo, agora designado pelo governo para tomar a frente desse caso, fizesse a primeira pergunta, um dos interrogados irritado proferiu:
- Os senhores sabem com quem estão tratando?
- Não! Justamente por esse motivo queremos saber quem são vocês e o que vieram fazer aqui?
- Ora, quem somos nós! Vocês não nos conhecem? Somos pessoas muito ilustres. Representantes da alta esfera política e econômica. E vocês quem são?
- Meu nome é Astrogildo e estou aqui para ajuda-los em tudo que for possível.
- Astrogildo? Astrogildo de quê, não tem sobrenome? Trabalha em que Ministério?
- Sou funcionário do Museu Central.
Em gargalhadas os “visitantes” cortaram a fala do Dr. Astrogildo dizendo:
- A questão aqui não é assunto de museu e sim para chefes de Estado. Coloque-nos imediatamente em contato com os seus superiores, ou melhor informe a presidência a respeito de nossa aterrisagem. Fiquem vocês sabendo que temos imunidade parlamentar.
- Por que pousaram aqui?
- Estamos chegando de um voo.
- Quando vocês decolaram?
- Saímos ontem, 25 de dezembro de 2015 e estamos num passeio turístico.
O Prof. Dr. Astrogildo percebeu que estavam numa outra época, mas achou prudente que até que obtivessem informações mais concisas a respeito daquelas pessoas, isso não fosse revelado aos “viajantes”.
- Liguem para seus superiores e tudo será esclarecido. Por sermos pessoas públicas e notórias exigimos que esse evento seja tratado por baixo dos panos. Sabem como é a imprensa para canetar incidentes? Além do mais não queremos estar associados a constrangimentos vexatórios. Isso repercute mal nas urnas.
A chiadeira era intensa por parte dos entrevistados.
Ameaçavam o Dr. Astrogildo e ostentavam o poder de seus cargos, prestígios e condições econômicas.
Com voz tranquila e serena disse o Dr. Astrogildo.
- Em breve estaremos aqui com informações mais precisas. Enquanto isso os senhores ficarão hospedados aqui com o melhor conforto e atendimento que possamos oferecer, ainda dentro da necessária quarentena.
Agradecemos a atenção de todos.
Nos dias que se seguiram o Prof. Astrogildo e demais membros participantes da equipe observaram as atitudes dos visitantes na quarentena. Percebiam tratar-se de pessoas dotadas de incrível capacidade de desrespeito inclusive entre eles mesmos, arrogância e dissimulação, situações estas tão contrárias e abominadas nos dias atuais.
A equipe mergulhou num profundo estudo a respeito dos acontecimentos na época que informaram terem decolados, ou seja, 25 de dezembro de 2015.
As informações astrofísicas mostraram que nesse dia houve uma forte precipitação de energia cósmica em grande parte da Via Láctea atingindo a Terra.  
Esse fenômeno, desconhecido naquela época, fez com que a aeronave entrasse num vácuo de tempo. Por esse motivo estavam tão desorientados, não sabendo que ficaram congelados no tempo e espaço por tantos anos, sem envelhecerem.
Tudo isso ficou bem elaborado para a equipe do Dr. Astrogildo, porém ainda necessitavam saber como naquela época, numa pequena viagem de passeio turístico a aeronave acabou entrando na órbita da Terra?
Enquanto as pesquisas iam avançando, no Centro de Confinamento os visitantes em quarentena estavam cada vez mais impossíveis.
Pesquisando diversas informações daquela primitiva história foi que o Dr. Astrogildo ficou completamente transtornado a ponto de exclamar: “os Mentecaptos voltaram”?
Leu a respeito daquela Organização Secreta e de seu plano de banir aquele tipo de gentinha do mundo, enviando-as para um passeio turístico para a “Terra dos Confins do Judas” que ficou conhecido como: “Extermínio aos Mentecaptos”.
A equipe do Prof. Dr. Astrogildo concluiu que “Os Mentecaptos” eram exatamente aquelas pessoas que estavam ali em quarentena e que ressurgiram do vácuo 3691 anos depois.
Fizeram valer aquele, também milenar, ditado que “lixo quando jogado no mar retorna para praia”.
O Dr. Astrogildo e toda sua equipe ficaram consternados com a situação daquelas pessoas, pelo fato de terem sido ludibriadas em função de suas ganâncias e sem possibilidade alguma de sobrevivência foram despachadas para o infinito. Não achavam justa uma atitude daquela.
Despacha-los novamente para o espaço adentro seria repetir aquela barbárie feita no passado e isso eles não fariam em hipótese alguma.
Convocaram uma equipe de especialistas da área da saúde para avaliarem as condições psíquicas e comportamentais daquelas vítimas e assim possibilitarem a necessária reintegração ao convívio social daqueles dias atuais.
Concluíram que seria uma tarefa bastante difícil, pois o modo de viver e pensar eram muito diferentes.
Os rotulados “Mentecaptos” possuíam uma incrível capacidade de distorcer a realidade, de se convencerem de que o mal era um grande bem e se sentiam felizes nessa sofrível condição.
Assim não poderiam ser liberados da quarentena sem um tratamento, ou todos seriam vítimas dessa situação.  
Mesmo diante de todas essas dificuldades resolveram, por uma questão de respeito humano, princípios de profissionalismo e cidadania aceitarem o desafio de trata-los.
Agora, com tudo devidamente avaliado e esclarecido, o Prof. Dr. Astrogildo resolveu colocar aqueles hospedes diante da verdade dos fatos.
Mal o professor deu início as explicações, já ouviu uma vaia geral por parte dos ditos “Mentecaptos”.
Os demais integrantes da equipe também não obtiveram nenhum êxito.
Ficaram intransigentes na postura de que estavam sendo enganados. Xingavam, exigiam obediência a seus cargos e posições, rejeitavam qualquer atitude de ajuda que pudesse ser contrária a condição de recoloca-los novamente em voo.
Sentiam-se vítimas de um complô para impedi-los de gozar suas nababescas e merecidas férias.
O Dr. Astrogildo pediu que aguardassem por mais algum tempo, porém na calada da noite, os “Mentecaptos” fizeram vingar uma fuga extraordinária e riram muito por terem passado a perna no pessoal.
Só pensavam agora em dar-lhes lá do alto uma banana coletiva, exatamente como fizeram na primeira decolagem.
Apoderando-se da aeronave, trancaram a porta e antes que alguém pudesse fazer algo para salva-los do infortúnio, meteram o dedão no botão de start.
A nave disparou desgovernada pelo chão e depois de muito rebolado foi ganhando altitude e entrou novamente na rota programada ou seja: ir de vez para os confins do universo, onde na realidade nem o louco do Judas se meteria ir.  
Dr. Astrogildo, e sua equipe não tiveram tempo e nem possibilidade de fazer algo para salva-los daquela triste situação. Temiam que os “Mentecaptos” não tivessem uma nova possibilidade de sobreviverem, retornarem e se reabilitarem.
Tecnicamente as probabilidades são de que nunca mais retornem.
Os “Mentecaptos” foram-se para sempre, ou será que não? Eis a questão!



quarta-feira, 20 de maio de 2015

Privações



Privações
De água, comida e bons tempos
Dá até prá levar

De outras coisas mais
Toca-se em frente
Sem pestanejar

Na ausência do amor
O dano é profundo
A alma sucumbe em dor




domingo, 17 de maio de 2015

O amor não é um monopólio



Tem pessoas que tentam monopolizar “o amor”, acreditando que seja de propriedade exclusiva de suas crenças.
Não entendem que “esse bem maior” é dado a todos, sem discriminação.


Canção de amor



Um vestidinho solto no corpo
Uma rasteirinha no pé
É tudo que ela precisa
Pra ter o que quer

Menina linda
Menina pura
Menina flor
Você conquistou o meu amor

Meigo sorriso
Olhar doce de amor
Tua pele é suave
Frescor e tentação

Você é a minha inspiração meu amor
Você é a minha canção de amor


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Bagagem para o dia da viagem




Não me restando nenhuma outra possibilidade e eu tendo que ir, desejo ir chorando de alegria. 
Parece-me tão libertador chorar de alegria!


Crer ou não crer?




“A pessoa que crê consegue alterar para ela o valor das coisas, porem crer ou não crer, não muda o valor real daquilo que se está crendo. ”


domingo, 3 de maio de 2015

Manicure do Além



- Vamos, estou te esperando.
- Calma! Eu não vou sair sem cortar as unhas primeiro. Não suporto homens de unhas compridas, acho horroroso.
- Não temos tempo para essas futilidades agora.
- Calma benzinho, eu corto as unhas e já vamos.
- Benzinho? Acho que você não está entendendo o que está acontecendo.
- Ahnnn? Quem é você? Pensei que fosse a minha esposa. Onde ela foi?
- Eu sou o Pedro.
- Pedro? Que Pedro? O que está fazendo aqui em casa?
- Realmente você está em casa Alfredo, ou melhor, de agora em diante na nossa casa.
- Cadê a minha esposa?
- Olha ela ali. Por sinal a sua família toda está aí. Olha quantos amigos também. Você é realmente muito querido.
- É, o pessoal está me esperando para uma festa.
- Nós vamos ter que deixar o pessoal aí, pois vamos participar de uma outra festa.
- A minha esposa já estava achando ruim de eu querer cortar as unhas antes de sair, imagina então se eu for a uma outra festa? Daí que o bicho pega.
Por sinal o que está fazendo aquele sujeitinho deitadão bem no meio da sala.
- Aquele é você Alfredo.
- Eu???
- É, você.
- Mas deitadão no meio da turma toda? Não é o que estou pensando, é!? Eu morri?
- Sim, agora você acertou em cheio.
- Ah, isso não pode ser verdade.
Caramba, como pode? Sou eu mesmo!
 - É que você ainda está meio quente, não desapegou plenamente desse mundão e por isso está confuso. É assim mesmo, esquenta não!
- Pera aí Pedrão! Eu estava para sair de casa e pedi para minha esposa me dar um tempinho para eu cortar as unhas, agora você vem com essa historinha de me trazer para cá de unhas compridas? Mas não vou ficar mesmo. Por acaso você tem um “trim” aí?
- Calma Alfredo, isso é uma bobagem. Aqui ninguém vai reparar nisso. Pode ficar tranquilo.
- Você fala isso porque não está na minha pele. Nunca gostei de ficar com as unhas grandes, e agora você quer que eu fique assim para toda eternidade? Ahhh tenha dó né!
De jeito nenhum, com as unhas compridas assim eu não fico nem com você e nem com ninguém.
- O pessoal colocou você no caixão muito rápido. Tinham que ter esperado um pouco mais.
- É, vim muito cedo mesmo para o meu gosto. Se arrumar o cortador tudo bem, caso contrário nada feito.
- Alfredo como ainda está tão apegado ao terreno, nós não temos isso por aqui e além do mais acho que você é muito exagerado, pois a suas unhas nem estão tão compridas assim.
- Pedro eu sempre fui assim, um pouquinho que as unhas ficassem compridas já me incomodavam. O que eu estou apegado mesmo é a questão dessas unhas que estão horrorosas. Você não está tendo consideração com os meus sentimentos, cara.
- Novamente vou dizer Alfredo. Aqui isso não é importante.
- Nananinanão, pode ir tratando de liberar o meu retorno. Eu corto rapidinho e daí sim volto de boa. Você pode até ficar esperando do lado.
- O problema Alfredo é que eu não tenho autorização para deixar ninguém voltar.
Alfredo nunca alguém recusou de entrar no céu.
Olha que faz milhares de anos que estou aqui na portaria e é a primeira vez que vejo isso.
O pessoal quer fazer qualquer barganha para entrar e você, querendo sair.
Essa situação é totalmente inusitada.
Não querer entrar no céu por causa das unhas? Eu nem sei como lidar com essa situação. Sinceramente Alfredo!
- Pedro o meu negócio não tem nada de pessoal, estou de boa com você, a questão é estética mesmo, entende? Além do mais, será rapidinho, pois são só as unhas das mãos.
- Caramba Alfredo você está me deixando numa “saia” justa hein!
Uma coisa é certa Alfredo, voltar para você cortar as unhas não será possível messsssmo. Se faço isso, corro o risco do Pai me passar um sabão. Podemos fazer um acordo.
- Já está melhorando Pedro.
- É o seguinte então:
Está vendo aquele sujeito de calça branca e cinto preto lá no canto da sala do seu velório?
- Sim, aquele é o Zezinho, amigão do peito, figuraça mesmo!
- Parece que tem algo em comum com você Alfredo.
- Sim, o Zezinho tem mesmo. Ele é outro que não suporta unhas compridas.
- Estou percebendo mesmo, pois até no seu velório ele passa o tempo todo aparando as unhas. Vamos pedir a ajuda dele.
- O Zezinho é dos meus, tenho certeza que com ele o problema já está resolvido.
- Vocês eram grandes amigos, não eram?
- Éramos não, somos. Carne e unha mesmo. Entendeu o link?
- Está bem, está bem..., isso facilitará bastante para o nosso lado.
Nós vamos combinar o seguinte:
Eu irei permitir que você entre em sintonia com os pensamentos do Zezinho e se comunique com ele, pedindo para que ele corte as suas unhas.
Problema resolvido, você fica livre para desencarnar de vez e me deixa sossegado. O que acha da ideia?
- Eu acho difícil, visto que o Zezinho não chega perto de defunto nem a pau.
- Vamos tentar Alfredo.
- E como será aberto o microfone?
- O canal já está liberado. Já pode se entender com ele.
- Vamos lá:
“Zezinho...!!! Ôôô Zezinho, sou eu o Alfredo cara!
O Zezinho estava lá no fundão da sala, entregue de corpo e alma as suas unhas e em alguns momentos pensava no Alfredo, ficava sentido, se emocionava, vinham-lhe as lágrimas, mas voltava-se para as unhas. Num determinado instante não conseguia mais parar de pensar no Alfredo e foi ficando muito impaciente.
Passou a andar de um lado para o outro da sala, mas sempre distante do caixão.
Desde que chegou ainda não tinha conseguido obter coragem para olhar para o seu amigo Alfredo, quanto mais se aproximar do corpo.
Foi justamente no exato instante que arriscou uma olhadinha de canto de olho e que visualizou o rosto do amigo moribundo que o bicho pegou. Sentiu com muita nitidez em seus pensamentos que Alfredo lhe dizia algo: “Zezinho...!!! Ôôô Zezinho, sou eu o Alfredo cara! ”.
Zezinho quase desmontou das pernas. Por mais que tentasse pensar em outra coisa ele só pensava nessa frase. Era algo tão forte na sua cabeça que parecia que o Alfredo estava cochichando no seu ouvido.
Zezinho ficava cada vez mais atordoado.
Do outro lado da materialidade das coisas, em desespero pela inercia de Zezinho, Alfredo arrisca um:
- “Cacete Zezinho, sou eu cara, tá me estranhando é? ”
Zezinho conhecia bem tanto a voz quanto a bronca que lhe vinham nos pensamentos. Dessa vez o impacto foi tão forte que Zezinho até respondeu em voz alta:
- Alfredo, onde você está cara?
Aquele romper do fúnebre silêncio foi o que bastou para todo mundo ficar olhando para o Zezinho, que ficou ainda mais intimidado.
- Fala baixo Zezinho, a conversa é só entre nós dois.
Zezinho sentia-se pirado com aquelas imaginações. Parecia tudo tão vivo e real em seus pensamentos que acabou se soltando para a prosa.
Meteu a mão na frente da boca e começou:
- Alfredo, afinal de contas você está vivo ou morto? Eu estou sonhando, delirando ou isso tudo é uma pegadinha?
- Não cara, eu estou morto mesmo, e estou precisando de um favor seu, coisa de irmão de fé.
- Mas o que você quer comigo? Justamente comigo que você sabe o quanto tenho um mal-estar danado só de olhar para um morto.
- Não cara, fica frio.
- Alfredo, de frio basta você, eu hein...
- Escuta só, corte as unhas das minhas mãos. Não estou aguentando me ver aí de mãozinhas postas com essas unhas horríveis de grandes. Está me dando uma aflição que você não tem noção. E pensar que vou ficar por toda a eternidade assim ainda piora muito mais a situação.
- Mas eu não suporto nem ver morto Alfredo, quanto mais pegar nas suas mãos geladas como já devem estar a essa altura.
- Que nada Zezinho, as minhas mãos ainda devem estar quentes. E tem outra, a hora que você ver o tamanho das minhas unhas você vai até implorar para corta-las.
- Acho que não vou conseguir te ajudar Alfredo.
- Vai sim cara! Chega lá perto, avalia a situação e depois você vai se animar nesse propósito.
Zezinho foi rodeando o caixão, se aproximando aos poucos, até que ficou bem ao lado do corpo. 
- E daí cara, o que achou da situação?
- Você estava louco? Como deixou a suas unhas desse jeito!
- Foi o Pedrão que pisou na bola e me levou antes da hora
- Mas como eu vou fazer isso?
Nesse bate papo todo do além com o aquém e vice-versa, Alfredo e Zezinho não conseguiam pensar numa situação que pudesse ser viável, para a realização de tal tarefa.
Pedro vendo o desespero dos dois resolveu dar o seu pitaco.
- Basta o Zezinho chegar pertinho do caixão, pegar nas mãos do Alfredo com uma mão e com a outra vai cortando disfarçadamente as unhas.
- Não desse jeito não, retruca Zezinho. O pessoal vai pensar que sou gay ou louco.
- Que preconceito horroroso Zezinho, rebate Alfredo, o que vale é ajudar um amigo.
- Não, assim não vai dar não. Primeiro: que não gosto de cortar as unhas de qualquer jeito, segundo: que é um serviço demorado, terceiro: como vou explicar para a sua família, minha atitude de ficar ali por mais ou menos uns trinta minutos de mãos dadas com você?
- Está bem Zezinho! O que acha então de você puxar uma oração. Você fala para o pessoal que uma vez nós combinamos que quem morresse primeiro, puxaria uma oração para alma do outro. Daí você pega nas minhas mãos e vai repetindo sem parar até dar um jeito de caprichar nos dez dedos. Nem precisa se preocupar com as cutículas.
- Alfredo o momento não é para gracinha, ainda mais que você não está numa condição de grandes exigências assim. Mas está bem! Eu vou topar fazer dessa forma que sugeriu, mas só porque gosto muito mesmo de você.
- Agradeço muito amigão, fico devendo mais essa para você. Fica tranquilo que vai dar tudo certo.
Conforme o combinado, num dado momento Zezinho vencendo a sua sofrida timidez e seu trauma por defuntos, foi se aproximando e falou para todos a sua necessidade de rezar para o Alfredo e assim foi feito.
Zezinho já tinha escondido o seu pequeno cortador de unhas e quando em desespero pegou nas mãos do Alfredo já se pôs a rezar e a mandar brasa no corte das unhas.
Enquanto ia executando a sua missão o coração batia acelerado e o suor brotava-lhe da testa.
Assim foi uma por uma até concluir todos os dedos.
Agradeceu aos céus, fez uns movimentos de mãos encomendando o corpo para que descansasse em paz e finalizou com um cansativo amém. Depois colocou-se novamente lá no cantão da sala crente que estava livre de vez de sua missão, respirou aliviado, quando novamente Alfredo entrou em comunicação.
- E aí Zezinho, fácil né? Você fez um belo trabalho, acho até que nem eu faria melhor.
- Pô Alfredo, até morto você me pede cada coisa. Ainda bem que já acabou.
- Não é bem assim Zezinho, falta você terminar o servicinho.
- Como assim? Eu terminei e com o maior capricho.
- Bem..., é o seguinte cara, falta fazer as dos pés.
- Dos pééés??? Aí é demais da conta.
- Vai dar um pouquinho mais de trabalho, mas você consegue Zezinho.
- Negativo, mas não vou messsmo.
- Brincadeirinha Zezinho. Foi só para aumentar a adrenalina. Não sei nem como te agradecer. Você foi dez mesmo.
Zezinho deu um sorriso, trocaram mais alguns pensamentos de carinho, relembraram rapidamente alguns momentos divertidos que tiveram juntos ao longo da vida e se despediram emocionados. 
Nesse instante lá do outro lado do mundo das matérias, chega um jovem anjo com os bofes de fora. Entrega um bilhetinho para Pedro, pede a benção e vai embora.
Alfredo olha para Pedro e o vê pálido como uma nuvem em dia de sol.
- O que houve Pedro? Levou sabão por causa de mim?
- Não, desta vez não. O Pai ficou tão emocionado com a demonstração de carinho do Zezinho por você que resolveu reconsiderar algumas coisas. Como você ainda não esfriou de vez e é uma pessoa muito querida também, ele quer dar-lhe uma nova chance de voltar para os seus amigos do lado de lá. Caso você queira é claro? Se quiser voltar, irá esquecer tudo que se passou.
- Pô Pedrão, pode dar como aceita a oferta e agradece o Pai por mim. Achei muito maneira a ideia. Até prometo que da próxima vez já venho com as unhas aparadas para não te colocar em saia justa.
Alfredo abriu os olhos e sem entender o que estava acontecendo, ficou espantadíssimo ao se ver ali no caixão e ver o pessoal, incluindo o próprio Zezinho, dando no pé gritando de pavor.
Um médico foi chamado e deu uma explicação técnica. Disse que na realidade Alfredo não havia morrido e que apenas havia mergulhado em um estado de sono profundo. Sugeriu-lhe repouso e uma rotina de trabalho mais amena.
Dias depois Zezinho foi visita-lo.
Deram muita risada juntos lembrando-se do ocorrido, porem num determinado ponto da conversa Zezinho disse-lhe:
- Pô Alfredo que loucura aquele seu pedido hein cara!
- Como assim Zezinho? Pedido? Que negócio é esse de pedido?
Mesmo muito constrangido, com medo de não ser compreendido e ser tachado de louco, Zezinho contou tudo ao amigo.
Alfredo rachando de dar risada lhe disse:
- Zezinho você é um louco cara, um insano. Acho que está trabalhando muito também, igualzinho eu. Já está variando.
Hoje Alfredo e Zezinho são compadres e a amizade daqueles dois continua sempre muito forte e divertida, a ponto de se necessário, cortarem as unhas um do outro, depois de mortos.


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