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domingo, 29 de março de 2015

O cabra e a cobra



Gumercindo, sessentão conservado, conservador do estilo brega chique, também fazia questão de ostentar suas vaidades com bons carros, lanchas e festas com a presença de lindas garotas.
Sua esposa Helena, embora nove anos mais nova do que ele, mostrava visivelmente uma aparência de nove mais velha.
Sem vaidades, ela conservava os mesmos hábitos e modos simples de quando se casaram sem um tostão.
Ajudou muito Gumercindo para obter a fortuna que agora tinham, com trabalho duro na roça, economias e privações homéricas.
Além desses desgastes, teve muita dificuldade para criar seus sete filhos e dois afilhados, pois Gumercindo era extremamente rígido, preconceituoso e agressivo. Tratava as mulheres com desconsideração e desdém, incluindo as próprias filhas. Achava que as mulheres já nasciam desqualificadas com relação aos homens.
Foi que num determinado dia Gumercindo necessitando comprar bois para uma de suas fazendas, resolveu unir o útil ao agradável.
Tinha uma caboclinha, uma de suas amantes, que morava num pequeno sítio próximo de sua fazenda e pensou fazer-lhe uma surpresa.
Pegou um jatinho logo cedo e na hora do almoço já estava por lá.
Por um capricho de Gumercindo, o administrador de sua fazenda estava aguardando-o na cidade com Corisco, seu estimado cavalo alazão. Um animal incrivelmente bravo, adestrado pelo próprio Gumercindo e que possuía admirável obediência aos seus comandos. Conhecia seu dono como ninguém e a nenhuma outra pessoa era dada autorização para monta-lo.
Logo que Gumercindo o avistou, deu um assovio e seu alazão com extrema violência soltou as rédeas das mãos do administrador e foi galopando para junto de seu dono.
Gumercindo deu uma gargalhada, todo cheio de vaidade e orgulho.
Montou o alazão, pregou-lhe as esporas nas ancas, o animal sentiu o drama e seguiu em disparada para o sítio da amada.
Na realidade o Gumercindo parecia nunca ter amado ninguém, pois era nítido o seu gostar somente por si mesmo.
Com exceção de Helena, as mulheres que iam com ele para cama demonstravam apenas interesse pelo seu dinheiro e nada mais, pois sua grosseria era insuportável.
Num certo local daquela estrada rural passava um ribeirão com belas arvores frondosas e Gumercindo costumava parar ali para o cavalo tomar agua e descansar.
Apeou, e deixou o Corisco a vontade por ali.
Enquanto aguardava resolveu dar uma deitada sobre a copa de uma imensa figueira. Aquele descanso lhe traria ainda mais energia, para se jogar como um cachaço sobre a coitada da aguardada donzela.
Como o sol estava a pino, o calor muito intenso e o local agradável, Gumercindo acabou pegando no sono.
Um sono tão pesado que acabou sonhando que estava dormindo e uma cobra veio em sua direção. Viu que Corisco riscava o casco no chão tentando em vão protege-lo. A cobra aproveitando-se daquele seu momento de inércia foi se enrolando em seu corpo.
Gumercindo achou estranho o fato de que conforme a cobra enrolava, seu desespero ia desaparecendo e dando-lhe uma sensação de incrível bem estar.
Totalmente aprisionado a víbora cravou-lhe as presas e injetou-lhe seu poderoso veneno. Neste exato instante Gumercindo acordou.
Foi um sonho tão nítido que Gumercindo estava pingando de suor mas com uma eufórica alegria.
Ao tentar levantar sentiu-se muito tonto e confuso, como se estivesse num corpo que não lhe pertencia. Percebeu que Corisco estava arisco e olhava em sua direção com uma certa estranheza também.   
Olhou para a pata de seu cavalo e viu bem próxima, uma imensa cobra jararaca, mas que parecia estar morta.
Gumercindo exclamou: “caramba aquilo tudo foi verdade e meu fiel alazão me salvou de seu veneno de morte!”
Quase que instintivamente passou a mão sobre o local que a cobra havia-lhe picado no sonho e confirmou a veracidade dos fatos ao sentir uma dor no local. Abriu a camisa e avistou na sua carne as marcas das presas da víbora.
O sonho aconteceu de verdade.
Levantou-se, mas ao tentar andar sentiu que seus gestos de pernas e mãos eram diferentes do normal. Um gesto muito delicado para o seu jeito de homem rude e metido a macho.
Tentou evitar aqueles trejeitos mas fugiam-lhe de seus comandos. Seus modos estavam bem diferenciados do seu habitual jeitão de ser e isso realmente o deixou apavorado.
Enquanto isso Corisco assistia de longe a situação com aquela mesma estranheza no olhar.
Gumercindo tentou dar um assobio mas saiu tão chocho e sem vigor que Corisco sequer ensaiou sair do lugar.
Ele tomou aquilo como uma ofensa, uma grave desobediência de seu adestrado cavalo. Tentou dar-lhe um corretivo, mas a sua voz saiu tão doce e aveludada que perdeu a pose. Parecia uma delicada donzela dos contos de fadas.
Certamente aquilo tudo já seria o efeito do envenenamento, pensou Gumercindo. Ele precisava sair dali e procurar imediatamente um hospital.
Como Corisco não foi até Gumercindo, Gumercindo foi até Corisco, mas logo que tocou no cavalo o bicho estranhou, ficou arredio, deu uma empinada e relinchou pra valer.
Gumercindo ficou tão assustado que até chorou de medo da violenta atitude de Corisco. Novamente veio-lhe a estranheza desse seu maneirismo, afinal chorar e procurar um médico faziam parte de uma grande mariquice. Justamente ele que achava que frufrus resolviam-se no chicote e na espora.
Estava indignadíssimo com aquele comportamento selvagem de seu cavalinho de ouro.
O sol já estava se pondo e Gumercindo com muito jeito, alisamento de crina e carinho conseguiu convencer Corisco a deixar-se montar, porém não a ser guiado. Afinal de contas o seu dono não tinha mesmo o comando nem de seu próprio cabresto.
O cavalo acostumado a ir para a casa da garota tomou a direção e ali foi.
- O de casa… Disse Gumercindo em meiga voz ao chegar diante do portão.
Ritinha não reconhecendo a voz saiu na varanda e estranhou aquele homem que costumava ir entrando casa adentro, se fazendo avisar somente pelo barulho agudo do impacto do salto carrapeta das botas e das esporas no chão.
- Oi meu amor eu estava aguardando por você, disse Ritinha em meiga voz ao avista-lo.
Ritinha garota vivida com pessoas de todos os tipos, logo percebeu uma mudança significativa nos modos de Gumercindo, porem não se atreveu a perguntar o que houve, mesmo porque os seus propósitos ali não eram de caráter investigativo e sim interesseiro e lucrativo.
Ele tratou-a com respeito e carinho, ficaram conversando até tarde da noite sobre diversas coisas que jamais seriam anteriormente conversadas. Deitaram-se e somente dormiram juntos, sem mais nada.
Logo cedo Gumercindo saiu com destino a sua fazenda e Ritinha ficou ali por horas a refletir a respeito daquela mudança tão radical.
Ao longo do tempo que Gumercindo efetuou as compras necessárias, também procurou alguns médicos e nenhum deles tinha um diagnóstico para sua questão.
Desde o dia que Gumercindo foi envolvido e picado pela cobra, ele tentou de todas as maneiras esconder a sua nova forma de ser. Por mais que se policiasse, quando percebia, já estava completamente “a vontade”.
Como estava num estado de felicidade que nunca teve na vida, deu por encerrado a questão e voltou para casa.
Logo que chegou já foi procurar Helena. Ela estava na cozinha e ao vê-la deu-lhe um demorado abraço e um beijo que Helena jamais havia recebido.
Embora tenha gostado plenamente daquele carinho, ficou na defensiva com relação aquela atitude dele.
Ficou imaginando o que ele estava pretendendo. Estaria ele tentando amacia-la para depois abandona-la, deixando-a sem eira nem beira?
Helena desmontou quando Gumercindo fez-lhe uma melosa declaração de amor.
A forma dele falar e gesticular foi tão cheia de donzelice que até o próprio Gumercindo tentou esconder, mas foi novamente em vão. Assim soltou-se pra valer e contou-lhe com detalhes, tudo que houve em sua viagem, inclusive de seu relacionamento com Ritinha e com as outras mais ao longo do casamento.
O tempo foi passando e Helena foi percebendo que aquele “cavalo” do seu marido, que vivia tratando a todos nos cascos havia realmente mudado pra melhor e.... bem melhor. Comparar Gumercindo com um cavalo é de dar tristeza até nos verdadeiros cavalos, portanto ressalvas devem ser feitas ao valoroso Corisco.
Gradativamente aquela estupidez e maneirismos de menina em flor foram desaparecendo, porem o carinho e a afetividade daquele novo Gumercindo se mantiveram.
Helena e seus filhos estavam felizes.
Agora valia a pena viver aquele casamento de tantos anos, onde a luta e a perseverança não estavam sendo em vão.
Helena sorriu quando lembrou-se que para fazer o soro antiofídico, injeta-se o veneno da cobra num cavalo. A verdade é que o antídoto funcionou. O veneno não matou aquele cavalo e sim curou-o. 
Assim sendo, Helena estava disposta a recomeçar a vida com Gumercindo nessas novas condições tão agradáveis. Depois disso tudo Helena teve mais um filho com Gumercindo e conta-se que estão vivendo num ninho de amor e alegrias.


sábado, 21 de março de 2015

"Filminho" bom



Filma, grava, roda
Toca coração!
Siriris, asas
Vaga-luzes
Câmera, ação!


Meu pequeno “Blues da Solidão”



Solidão
Numa noite de verão meu irmão
Não é bom
Não, não é
Nada bom meu irmão

Solidão
Numa noite de inverno meu amor
Minha vida
Sempre vira
Um grande inferno, que horror!


Diferenças



Luar presente
Inspirando os amantes
A paixões indecentes
Inocentes
Incandescentes
Bem diferentes da podridão


Poeminha das flores e dos amores




Primavera
Orquídeas e lírios
Amores perfeitos




sexta-feira, 20 de março de 2015

Desabrochar


A menina doce e pura parou
Se viu, sorriu
Sorriso meigo, pleno de candura
Quando novamente se pôs a andar
Já formosura...
Mais bela se viu
Agora mulher, sem deixar de ser menina
Não menos nova e nem menos pura
Deliciosamente sorriu


Choro da solidão



Eu sempre fui uma pessoa apaixonada
Eu sempre fui uma pessoa intensa
Sempre ao seu lado
Você não soube cuidar do meu coração
Agora chora, chora pelo meu perdão

Eu sempre fui uma pessoa apaixonada
Eu sempre fui uma pessoa intensa
Sempre ao seu lado
Você não soube cuidar do meu coração
Agora chora, chora pelo seu pecado

Eu sempre fui uma pessoa apaixonada
Eu sempre fui uma pessoa intensa
Sempre ao seu lado
Você não soube cuidar do meu coração
Agora chora, chora pela solidão



quinta-feira, 19 de março de 2015

Enquanto isso no Memorial da Capital dos Brioches


Material utilizado: indignação, lápis, caneta e papel A4



Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor



quarta-feira, 18 de março de 2015

terça-feira, 17 de março de 2015

Pra você e mais ninguém



Como é bom ter você tão perto
Teus olhos verdes tão lindos
Tua boca, teu sorriso alegre, moleca
Todos os dias de amor liberto

Como é bom relembrar
Esse teu jeitinho tão gostoso
Que logo percebeu
O meu amor todo choroso

E foi nestas condições então
Que fiquei todo babão
Ao ver nos teus olhos um sim
Pra dar todo o teu fogo pra mim

Um olhar de petisco, de feitiço
Que amarra pra jamais soltar
E foi me deixando tão carecido
Pois era um olhar, só de provar

Assim dizia o olhar: saiba esperar!
Pois assim destarte
Terá o teu sonhado festim
Pra com gosto lembrar e sempre cear


Enquanto isso no playground do "Palácio dos Brioches"


Material utilizado: indignação, lápis, caneta e papel A4



Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor


domingo, 15 de março de 2015

Enquanto isso no toucador do "Palácio dos Brioches"

Em Momento Restaurante - "aguardando pelo almoço"
Material utilizado: indignação, lápis, caneta e guardanapo de papel.




Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor


Enquanto isso na sala de TV do "Palácio dos Brioches"

Em Momento Passeata (Jacareí/SP)  em prol de um "BRASIL MELHOR! COM UNIÃO E SEM CORRUPÇÃO"
Material utilizado: indignação, lápis, caneta e papel.A4



Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor


sábado, 14 de março de 2015

Um amor de atitudes



Em plenos tempos de corrupção
De pilhagens, de pilantragens
A alma fervorosa se apega a oração

Pede com imensa devoção
Que a divina providência
Se encha de dó e comoção

Que olhe e ampare as tantas Marias e Josés
Que liberte a todos, sem discriminação
Do copioso sofrimento de sua nação

Pobre homem de fé
Que ficará até a morte
De mãos postas à própria sorte

Ajoelhado ou em pé, não importa
Aguardando por um milagre
Dentro de sua sofrida tenda de morte

Acreditando em vão que o amor
É um ato paciencioso de fé e oração
Um aguardar tímido dos céus

E não uma atitude firme dos grandes valentes
Que não madornam na estrada dura e pedregosa
Mas sim, movimentam as montanhas com atitudes


sexta-feira, 13 de março de 2015

O pau de arara não morreu



O pau de arara não morreu
Poucos privilegiados na boleia
A maioria na carroceria
Mas como sempre, comendo pó

A viagem é dura
A estrada não perdoa os frágeis
Só os fortes e insistentes chegam lá
Sovando a bunda, calejando a alma

Sonhando com comovente alegria
Por mudanças na história
Seguem com a tutameia da vida
Na carroceria do macabro caminhão

A boleia sofisticou
Tem banco de couro e ar condicionado
A carroceria também mudou
Há mais espaço, e se não houver se cria

As que não aguentam, morrem
São descartadas inclusive das estatísticas
As que sobrevivem, se espremem
E são alimentadas por histórias engraçadas

Contos que geram esperanças e expectativas
Mas sempre mal contadas
Distorcidas e alteradas
Suporte por anos, a seus dias de migalhas

A carroceria agora virou fila de hospital
Atendimento nas macas
Virou promessas de campanha eleitoral
Juros e preços altos

Enchentes, deslizamentos levando gente
Apertos no metrô e assaltos na lotação
Virou também milhares sem casa
Tantas outras entregues que ficarão trincadas

Virou desemprego e desilusão
Enfim...muita gente nos banquinhos do centro
Nas grades penduradas, até mesmo em cima dos pneus
Mas no mesmo terror de caminhão


quinta-feira, 12 de março de 2015

Pagando língua



O pessoal do prédio fica falando mal de mim sem razão.
Dizem que sou turrão, implicante e que tenho tolerância zero. Uma coisa é observar o que realmente acontece no prédio, outra é ser fofoqueiro e intrometido como me chamam.
Essa gente não sabe de nada e quer falar de tudo. Eu não, eu fico sabendo para interagir, para melhorar o convívio entre os moradores. Agora olha só se eu não tenho razão de falar.
Um dia destes me deu vontade de comer alguma coisa, olhei para janela e flagrei o meu vizinho me bisbilhotando. Fica o tempo todo me espreitando quando vou à cozinha.
Tem um outro, que mora no bloco da frente, que sonda todos os meus movimentos dentro do apartamento, seja a hora que for. Fica imóvel no escuro. Parece uma salamandra e esconde-se até entre as roupas estendidas no varal. É um perito em camuflagem.
O que mora no terceiro andar parece um relógio cuco. Observa todo mundo que está chegando, saindo, indo para piscina ou andando no pátio do prédio.
Tem uma que lava o peitoril da sacada e joga água nos doze andares abaixo. Deixa os vasos na mureta sem a proteção de tela. Qualquer hora ela mata um no térreo.
Os moradores do 122 possuem uma peculiaridade diferenciada. Fazem questão de publicitar a todos, em alto e bom som, suas aventuras sexuais. Interessante frisar que após esse expediente “noturnico” ele faz um fechamento com um grunhido semelhante a dobradiça emperrada de porteira de roça. É algo sui generis.    
Os meus vizinhos de cima são uns terrores. Eu não sei o que aquela mulher tem para fazer tarde da noite com sapato de salto.  É um toc...toc...toc pra lá e pra cá no teto do meu apartamento capaz de enlouquecer e brochar o sono de qualquer um.
Tem noite que estou num soninho gostoso e escuto uma cachoeira despencando. Na sequência, um infernal som da descarga.
Bem mais acima, não sei precisar exatamente o andar, tem um sujeitinho que durante o banho dá uma assoada de nariz cujo som ecoa por todo o condomínio. A impressão que tenho é que ele quer colocar todas as suas vísceras para fora numa única assoada. Acho que ele é o mesmo que sai de madrugada para trabalhar com um radinho de pilha ligado e despede-se do porteiro em voz alta: “bom dia pra nós todos né Seu Roberto?”, e malha o pobre do portão. Suas palavras e o som do portão, não batem com a minha possibilidade de ter um bom dia. É impossível.
A questão mais complicada mesmo eu estou passando com a vizinha do 104. Ela simplesmente vai para a lavanderia, despe-se e coloca a roupa diretamente na máquina de lavar. Ela fica me olhando, me manda um aceno de mão, dá um sorriso e sai. Parece que ela lida muito bem com essa questão e demonstra ficar muito a vontade. Acho que isso ocorre por uma tremenda coincidência quando ambos vão para esse mesmo local. Nada premeditado, mas ultimamente tenho visto bastante ela nuazinha por ali. Eu imagino que... 
- Benzinho deita de lado!
- Ummmmmm...?
- Deita de lado meu amor...você está muito agitado, além de roncando e falando muito alto. Acho que está tendo um pesadelo.
- Estou é? É, você tem razão…estou mesmo. Horrível!
- Ainda bem meu amor que nós moramos em casa térrea. Se morássemos num apartamento talvez algum morador já estivesse incomodado e reclamando de você....
- É verdade..., vou dormir pianinho...
Alberto vira-se para o canto e volta a dormir.


sexta-feira, 6 de março de 2015

Nhá Chica lava, torce e limpa por dentro


– Alô?
– Pronto. Responde Nhá Chica, com voz ofegante. Ao fundo som ritmado de atabaques.
– Nhá Chica?
– Oi Seu Epaminondas.
– A senhora é boa mesmo hein! Como é que adivinhou que sou eu?
- Pelo bina Seu Epaminondas. Tenho qui te bina, sinão os safado tenta dar trote inté aqui no meu terrero. Quando eu não tinha bina eles tentava, mais eu acabava discubrindo os cabocrinho. Tardava mais não faiava.
– É mesmo Nhá Chica?
– Sim, mas não vinga porque a Nhá Chica é veia no ramo. Tarimbada nesses trabaios de isperteza.
– Caramba Nhá Chica até com a senhora esse pessoal quer usar de vigarice?
– É, tem de tudo né, mais a Chica pega, ela intende bem de safadeza. Pega e indireita o cabocrinho rapidinho. Esses dias mesmo, tive que deixa um pilantrinha invergado, inguar a um arco de frecha.
– Mas isso não deixa o sujeito mais torto ainda Nhá Chica?
- Fica não fio. O trabaio é assim mesmo. Primeiro di tudo é dá um banho de 7 ervas pra sorta o cardo grosso. Dispois tem que da uma invergada boa, até range o cerne do sujeitinho. Quando tive bem cochado, istalando no ponto de quase trinca, daí vai sortando devagarinho, até vorta no prumo.   O bichinho sente na anca como é bom inverga os outro. Perde toda a tortura, fica um home reto e bão, uma graça de gente.
- E daí Nhá Chica ele melhorou?
– Esse ainda não, tá um pouco invergado ainda. É bichinho ruim, cobra veia criada. Carne dura demora um pucadinho mais.
– Mas por que isso Nhá Chica?
– É que esses inverga os otros, mais num conhece o gosto de ser invergado. Tem que prova o gosto do mer, sinão não fica sabendo que é doce pra dedéu.
– Ele é ai da região?   
– Não esse é di fora, do istrangero, luga chique, de gente graúda. Madeira amargosa, dura, ruim pra torce. Esse eu inté tive que faze um tratamento especiar. Vou deixa ele uns tempo na forma. Dai não tem conversa, sai bão mesmo.
– O lugar que vive interfere tanto assim Nhá Chica?
– Dependendo do luga e do tempo que ficou por lá, o cabocrinho fica muito tinhoso, um bichinho difícir e cheio de isperteza. Mais eu punho ele no prumo também, nem que seja pra acerta no enchó. Lasca bastante mais fica bão de novo. É só te paciência.
– Nhá Chica eu estou necessitando de um trabalhinho da senhora por estas bandas da capital. Umas coisinhas cabeludas que vem acontecendo há um bom tempo. Certas contas que não fecham, do tipo: entra um tanto, desaparece no meio um tantão e fica um minguadinho no final.
– Fica tranquilo Seu Epaminondas. A Nhá Chica faiz muito trabaio forte por essas bandas. Inté de coisa grande lá pros fundo do “mar”. A Nhá Chica lava, torce e limpa por dentro.


quinta-feira, 5 de março de 2015

quarta-feira, 4 de março de 2015

Um amor que foi pro brejo


Conforme a noite ia criando aquele estimulante clima de envolvimento mais ele ia se apaixonando.
E não havia mesmo como não ficar perdidamente apaixonado por aquela garota tão deslumbrante.
Seu coração disparou quando ela tomada por uma imensa paixão disse-lhe:
- diante das tantas diferenças que existem entre nós, tenho um grande receio que meu pai não aceite o nosso casamento, porem eu estou disposta a tudo para viver com você. Topa fugir comigo meu amor?
Aquela pergunta proporcionou-lhe um delicioso sentimento de confiança e alegria. Jamais imaginou que ela sendo tão linda, e ele tão horrível como sentia-se, pudesse fazer-lhe tão sonhada proposta.
Ele já estava diante do sim mais feliz de sua vida, quando uma minúscula gota de luz surgiu do nada e piscou resplandecente diante de seus olhos.
Como uma imensa flecha vermelha, sua língua saiu como um raio boca afora, em busca daquela encantadora gota luminosa.   
Pleno de desejo e sem controlar sua língua voraz, deu um imenso salto ao encontro daquele pobre vagalume que descontroladamente foi arremessado no meio do lago. Ele imediatamente jogou-se lago adentro na busca daquela apetitosa iguaria.
Aquela linda jovem ali ficou a noite toda a chorar, por seu guloso príncipe inacabado, que mal conseguia controlar seus instintos ainda tão primitivos.


Em tempo de lavagens e limpezas


Certos políticos tarimbados jamais irão tomar rivotril, lexotan ou qualquer outra tarja preta como foi veiculado nos noticiários.
O que na realidade se utilizam é seduzir para que os seus eleitores o façam, tomando tais remédios com mais convicção.
Assim as máquinas de lavar poderão ir funcionando, funcionando, funcionando, até que termine todos os ciclos.
No final, entorpecidos pelos efeitos catalépticos dos medicamentos tomados, não perceberão jamais que depois de tanto gasto de tempo e energia, a roupa continua imunda.
Estes continuarão felizes usando os mesmos ingredientes acreditando que tudo está mais fofinho, limpo e cheiroso.
Quanto a esses certos políticos, lógico, estarão satisfeitos vendendo e se enriquecendo com seus produtos de limpeza que jamais funcionarão, para os outros.
É muito triste a presença de tais pessoas em locais tão importantes onde são elaborados o curso da história de um povo e sua nação. 



terça-feira, 3 de março de 2015

Onipotência


O onipotente tenta mudar o imutável. Poderia utilizar essa energia para se envolver e se encantar com o palpável.


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