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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Sarau para sarar


Quando pela primeira vez ouvi alguém falar a respeito de sarau, fiquei escutando com atenção para saber o que aquela palavra que soava tão gostosa nos meus ouvidos poderia representar.
É interessante como certas palavras tem uma sonoridade tão gostosa e envolvente, e como isso ganha uma dimensão ainda maior quando se descobre que o seu significado tem tudo a ver com a gente.
Eu era garoto, ainda lembro com detalhes, que meus pais recebiam seus amigos em casa com constância. Eles se reuniam para conversar, filosofar a respeito de diversas questões, falar sobre livros e poesias, falar de filmes, ouvir músicas, tocar gaita, violão e cantar.
Eu achava aquilo tudo muito bonito e especial, assim como achava muito interessante o fato de até o padre da cidade, “Padre Ângelo”, com batina e tudo, também participar das conversas e cantorias com uma satisfação incrível.   
Embora eu participasse como um expectador infantil, cada momento dessas tantas reuniões tinha certas particularidades que ainda me recordo com alegria.
Eu me recordo que eles cantavam músicas de Maysa, Dolores Duran, Lamartine Babo, Noel Rosa, Miltinho, e de tantos outros mais. Falavam a respeito dos contos de Mark Twain, Eça de Queirós, Saint-Exupéry, Miguel de Cervantes, Olavo Bilac, Machado de Assis, Monteiro Lobato e outros. 
Voltando a questão do Sarau, foi bem gostoso saber que essa palavra vem do latim *seránus” que significa relativo ao anoitecer, de serum (tarde, pôr do sol), do galego “sarao”.
É justamente empregada para reunião festiva e descontraída entre amigos, que geralmente tem início ao cair da tarde. Um momento onde se ouve música, assiste filme, filosofa, canta, fala-se trecho de livros, declama-se poesia. Um momento de troca de vivências ligadas as artes e a cultura.
Muito mais gostoso ainda é confirmar que algo tão bom e que faz tão bem para a nossa saúde cultural e emocional me foi oferecido pelos meus pais e que pude aceitar e vivenciar ainda tão jovem. 




domingo, 27 de abril de 2014

Aquário surreal



"Aquário surreal" – tintas de diversas texturas sobre compensado (Jacareí/SP)

Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Grupo Colcha de Retalhos


Meus bons tempos no Grupo Colcha de Retalhos
Apresentação em homenagem a "Chico Buarque"
(Jacareí/SP)

Retrato em Branco e Preto - Tom Jobim e Chico Buarque



Grupo Colcha de Retalhos interpreta canções de Chico Buarque no show Sobre Todas as Coisas realizado no Auditório da Secretaria de Educação de Jacareí em 25/11/2011.

Grupo Colcha de Retalhos: Tânia Reis, Izildinha Costa, João Nogueira, João Azeredo e Anderson Albino.
Músicos nesta canção: Tânia Cassia Reis (vocal), Geraldo Felipe (violão), Hugo Cardoso Jr. (contrabaixo), Denilson de Paula (bateria) e João Azeredo (clarinete).


Grupo Colcha de Retalhos


Meus bons tempos no Grupo Colcha de Retalhos
Apresentação em homenagem a "Milton Nascimento"
(Jacareí/SP)

Certas Canções (Tunai/ Milton Nascimento)


Show "Nós na Esquina" - realizado em 27 de maio de 2011 na cidade de Jacareí/SP

(filmagem - créditos a João Eduardo Lamanna Azeredo)

Grupo Colcha de Retalhos


Meus bons tempos no Grupo Colcha de Retalhos
Apresentação em homenagem a "Chico Buarque"
(Jacareí/SP)

O Meu Amor - Chico Buarque



Grupo Colcha de Retalhos interpreta canções de Chico Buarque no show Sobre Todas as Coisas realizado no Auditório da Secretaria de Educação de Jacareí em 25/11/2011.
Colcha de Retalhos: Tânia Reis, Izildinha Costa, João Nogueira, João Azeredo e Anderson Albino.
Músicos: Geraldo Felipe (violão), Hugo Cardoso (contra-baixo) e Denílson de Paula (bateria).Agradecimentos especiais à Beatriz Galvão, que gentilmente filmou o espetáculo.

Grupo Colcha de Retalhos


Meus bons tempos no Grupo Colcha de Retalhos
Apresentação em homenagem a "Adoniran Barbosa"
(Jacareí/SP)
(filmagem - créditos a Adriana Tamelini)

A festa continua


Título: "A festa continua..."
Classificação: livre
Curta Metragem: 01min38s. 
Gênero: Comédia
Estrelando: Pituquinho
Roteiro/Produção: João de Azeredo Silva Neto
Música: "Pipoca Moderna" - Caetano Veloso/Sebastião Biano "O teu Cabelo não Nega" - Lamartine Babo-Irmãos Valença
Sinopse: Entre o início e o fim do deserto Pituquinho encontra um delicioso oásis
BRA2012
Copyright do produtor

Diferentes pontos de vista


Título: Diferentes Pontos de Vista
Classificação: livre
Curta Metragem: 02min56s. 
Gênero: Drama
Estrelando: Ludmila Ferreira Sassano
Elenco: Rafael Ferreira Sassano e Lucíola Helena Ferreira Sassano
Roteiro/Produção/Direção/Música: João de Azeredo Silva Neto
Sinopse: Os conflitos de uma criança diante do amor de uma mãe.
BRA2012

Vermelho fatal


Título: Vermelho Fatal
Classificação: Livre
Curta Metragem: 13min38s. 
Gênero: Drama
Estrelando: Izildinha Costa
Direção: José Luis Bednarski
Produção: Izildinha Costa, João de Azeredo Silva Neto, José Luis Bednarski e Mateus Santos Guimarães
Obra literária e Roteiro: João de Azeredo Silva Neto
Sinopse: Gigi quer apenas ser feliz, mas para isso terá que vencer um grande monstro. Seus conflitos psíquicos são tormentos invisíveis a tirar-lhe a paz. Sua grande batalha apenas começou. 
BRA2012

Meu vaso


"Meu vaso" 
material utilizado: bico de pena e papel verge

Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor

Uvas orvalhadas


"Uvas orvalhadas" (fotografada em 22fev2014 com celular - Guaratinguetá/SP) 

Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor

Flamboyanzinho


flamboyanzinho ou flamboyant-mirim (Caesalpinia pulcherrima) - (Jacareí/SP)

Autor: João de Azeredo Silva Neto

Copyright do autor

Orquídeas


"Orquídeas" - (Jacareí/SP)

Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor

Margaridas


"Margaridas" – tintas de diversas texturas sobre compensado (Jacareí/SP)

Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Veleiro


"Veleiro" 
material utilizado: bico de pena e papel verge

Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor

Buquê


"Buquê" - (fotografada em 22fev2014 com celular - Guaratinguetá/SP) 

Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor

terça-feira, 22 de abril de 2014

Casarão


"Casarão"
material utilizado: bico de pena e papel verge

Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor

Primavera


"Primavera" - (Bougainvillea glabra) - Jacareí/SP

Autor: João de Azeredo Silva Neto

Copyright do autor 






domingo, 20 de abril de 2014

Trocando os pés pelas mãos de Isaurinha



Após mais um banho novamente Ignácio colocou a se enxugar.
Como sempre tomando o cuidado especial de secar o vão dos dedos de seus pés.
Tinha verdadeiro pavor de colocar as meias com o vão dos dedos úmidos.
Cabelos, axilas, braços, pouco a pouco e lentamente, cada parte do corpo era impecavelmente seco até chegar aos pés.
Esta última tarefa era cuidada de uma maneira a tomar-lhe uma grande gama de energia e tempo.
Seus sapatos e meias ficavam previamente preparados durante a noite para receber todas as manhãs seus imaculados, secos e bem tratados pés.
Os sapatos recebiam duas pelotas de papel higiênico.
As meias eram colocadas no interior de uma seca toalha.
Hoje seus pés deveriam estar mais lavados e secos do que nunca estiveram.
Ignácio irá se casar com Isaurinha às dezoito horas e quinze minutos, conforme o padre mandou correr o proclama.
Estão namorando desde os quinze anos e mais quinze já se passaram desde então.
Casamento, festa e lua de mel.
Já exaustos finalmente Ignácio e Isaurinha vão dormir.
No chão: sapatos, meias, e mais um rol de outras vestimentas jogadas.
Na cama: um casal recém casado, embrenhados, deliciosamente apaixonados.
O tempo passou, mais uma manhã se deu.
Ignácio acorda, toma seu banho, seu café e volta para o quarto.
Sua fixação e gasto de energia felizmente deixaram-lhe os  pés.
Agora, pé ante pé para não acordar Isaurinha, abre a porta e fica por alguns minutos parado ao lado de sua amada.
Ela sempre teve o costume de dormir nua, nua em pelo.
Aprecia sua bela Isaurinha e lhe dá um beijo singelo.
Um beijo de “um dia bem gostoso meu amor”, àquela que dorme satisfeita de mais uma noite perfeita.
Esta deitada, ainda perfumada das essências alucinadas do amor, acorda deslumbrada ao ver Ignácio ao seu lado.
Sonolenta, sussurrando já lhe dá mais uma cantada: não demora hein!
Ignácio sai pro trabalho, cantando apaixonado: Isaurinha é a minha mulher!



Madona


"Madona" – tintas de diversas texturas sobre compensado (Jacareí/SP)

Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor

Programa amigo do cidadão


Gravação do Programa Amigos do Cidadão, com João Azeredo e Mateus Guimarães.
Apresentação de José Luis Bednarski
Jacareí - SP

Chuva de ouro


"Chuva de ouro" - Oncidium Varicosum (Jacareí/SP)

Autor: João de Azeredo Silva Neto

Copyright do autor

Tiradentes - MG


"Tiradentes" (cidade histórica de Minas Gerais)
material utilizado: bico de pena e papel verge

Autor: João de Azeredo Silva Neto
Copyright do autor

 

sexta-feira, 18 de abril de 2014

A beata


A beata
na boate,
sua alma
perde a calma
e dá-lhe um bote.

Com sede ao pote,
mergulha fundo,
se empolga,
se afoba,
se afoga.

A beata é resistente.
Tenta, tenta, tenta,
resistir em vão a provação.
Agora já sem forças
sucumbe a tentação

A fome é evidente
àquele ser temente.
E o ser tão crente,
 pra si mente,
o seu lado tão carente.

Livre das amarras
cai na farra.
Se esfrega, se entrega,
a farta e presente
refeição tão quente.

Aos sussurros de emoção,
chorando em oração,
agora experimenta,
a tão sonhada:
salvação.



A praça encolheu!




Certa vez me deparei ali, no meio da praça, com uma dura realidade. Aquela praça onde eu brincava há tanto tempo estava encolhendo! 
Fiquei por muito tempo observando e quanto mais observava, mais ela diminuía de tamanho. À medida que essa constatação ficava evidente para mim, parecia que menos eu brincava e mais me angustiava.
A praça foi encolhendo, encolhendo e quando parou de encolher, também parei de brincar ali.
Eu ficava pensando, como podia acontecer aquilo? Com certeza deveria haver uma explicação, pois praças não encolhem; nunca ninguém me falou disso, nem mesmo os meus pais.
Até o imenso banco que havia encolheu! Eu e mais uns cinco amigos ficávamos sentados, brincando com as garotas que passavam.
Hoje devem caber no máximo uns três. O tempo foi passando e cada um foi estudar e morar para o seu lado.
Eu mudei, os amigos e as garotas também, porém a praça continua no mesmo lugar, só que para mim hoje em seu real tamanho.
A criança se foi e a maturidade me colocou vendo as coisas com suas dimensões reais. Muitas vezes é difícil esta situação, mas ela é necessária para enfrentarmos a vida que é implacável e totalmente compromissada com a realidade nua e crua.
Sem rodeios ou fantasias, o amanhã dependerá, uma parte, das minhas atitudes de hoje.
A outra não há o que fazer a não ser aceitar minha impotência humana.
Virá independentemente do que eu fiz, faça ou deixe de fazer. 
Diante de tudo isso, talvez um dia, meu corpo frágil e debilitado pela velhice possa novamente acreditar que a praça esteja voltando a crescer.


Feijão com ovo


Abelardo mal sentou-se no banquinho do balcão da padaria e Seu Manoel gritou para a cozinheira que soltasse o PF do Abelardo.
Abelardo contrapôs dizendo que iria só de média com pão e manteiga.
Seu Manoel ficou indignado, pois era um cliente tão habitual que a cozinheira até conhecia seu peculiar gosto de ser servido com o feijão sobre o ovo frito.
 Seu Manoel serviu e observou que Abelardo reforçou a média com bastante açúcar, costume muito utilizado pelos moradores de rua da região.
Seu Manoel aguardou que Abelardo concluísse o que estava comendo e lhe perguntou se estava acontecendo alguma coisa, e se poderia ajudá-lo em algo.
Abelardo disse-lhe que estava fazendo serviço de pedreiro em uma obra ali por perto.
Embora a mesma estivesse em fase de acabamento, estava tranquilo, pois já tinha acertado um novo trabalho para os próximos meses.
Porem com essa história da crise mundial, a pessoa desistiu de continuar a obra.
Desta maneira achava melhor apertar o cinto para não ter gastos fora de suas possibilidades.
A essas palavras Seu Manoel lhe explicou que aquilo não era necessário.
Que ele poderia comer a vontade e depois debitar a conta no cartão de crédito, ao que Abelardo constrangido lhe informou não possuir.
Seu Manoel acabou rindo e disse-lhe que era muito fácil obter um, e que ele não podia ficar naquela situação.
Comentou ainda que muitas daquelas pessoas que estavam ali comendo certamente iriam debitar no cartão de crédito, para pagar depois.
Abelardo pediu explicação a Seu Manoel de como poderia gastar no cartão se não tivesse o emprego garantido para pagar depois.
Seu Manoel explicou que o negócio era gastar. Gastar para que todo mundo pudesse ter como ganhar, e assim dar emprego pra outro, e isso é que faria com que ele não ficasse sem trabalho.
Nesse momento Abelardo até coçou a cabeça de tão confuso.
Perguntou ao Seu Manoel como faria se gastasse com o cartão e depois não tivesse o dinheiro para pagar.
Seu Manoel sem muitas reservas e intimidações lhe disse que se não tivesse como pagar era só não pagar, pois essas empresas já cobravam juros altos para os que pagam estar pagando pelos que não pagavam.
Abelardo ainda mais perplexo perguntou como ficaria então se todo mundo não pudessem pagar.
Seu Manoel lhe disse que essas empresas iriam então entrar em uma crise financeira e assim pedir dinheiro para o governo. Este por sua vez irá emprestar o dinheiro para ser pago a longo prazo, com juros baixinho, e assim evitar que a empresa quebre e não mande ninguém embora.
Aquilo era realmente muito complexo para Abelardo, que continuou perguntando quem então iria pagar o governo.
Aí sim Seu Manoel caiu na gargalhada dizendo: ora Abelardo o governo vai aumentar os impostos e novamente repor o dinheiro em caixa.
Abelardo perplexo e abalado saiu da padaria se questionando: então eu peço a média com pão e manteiga para bancar o pessoal comendo o meu feijão com ovo?   
Eu hein...



Bela sinfonia



Ainda era bem cedo.
Nas ruas poucas pessoas.
Destinos diferentes,
propósitos iguais.
O trabalho era o regente.
Já se ouvia os primeiros acordes.
Passos aqui, zumzum acolá.
Os músicos se posicionavam,
a sinfonia logo iria começar.
Mariana jovem solista,
seguia em seus passos a cantarolar.
Será sua primeira apresentação.
Com seu belo e jovem ritmo de coração,
“carteira de trabalho” na mão,
seguia Mariana
querendo logo bater o cartão.
Aplausos, pedidos de bis a essa firme menina.
Assim tão feliz,
após um dia de bela canção,
volta pra casa contente.
Foi um sucesso a apresentação!



“Vôvoo” Noel de Presente


Meu amigo Roberto estava ansioso para vestir seu suntuoso traje de Papai Noel. Estava tudo preparado, incluindo a famosa barba branca postiça e um imenso saco vermelho recheado de presentes. 
Era seu grande sonho fazer essa surpresa para seu amado e único neto Robertinho e escolheu fazer isso em sua escola. 
A aula terminava ao meio dia e às onze horas Roberto já estava com tudo pronto em seu carro a caminho da escola. 
No trajeto viu uma tosca charrete que caminhava vagarosamente na avenida e teve uma grande ideia. Ultrapassou a charrete, deu sinal para o condutor parar e alugou-a por um bom preço. Ficou aguardando no portão principal da escola. 
Deveria descer uma rampa toda arborizada que dá acesso ao lindo pátio da escola com lindos pergolados de flores coloridas. 
Vovô Roberto agora já como Papai Noel estava em pé no “trenó-charrete” espiando lá de cima a movimentação, pronto para dar a partida. 
Doze horas em ponto soou o forte apito da escola anunciando o término das aulas. Isso foi o que bastou para assustar Gertrudes, a sua calma e serena eguinha-rena. 
Como diz o ditado: no medo corra! Papai Noel sequer teve tempo de sentar-se. Gertrudes correu desgovernada morro abaixo e Papai Noel ficou ao “Deus Dará”. 
Gertrudes pegava velocidade e tudo que era puxado por ela também, como os presentes e obviamente o próprio Papai Noel que ia pulando em pé no “trenóchete” tentando se equilibrar com um esforço descomunal. 
As crianças quando viram aquilo ficaram maravilhadas. Batiam palmas e gritavam em coro: Papai Noel pampampam, Papai Noel pampampam! Era até bonito de se ver a condição de equilíbrio que O Bom Velhinho demonstrava, se não fosse o lado trágico da situação.
Diante do entusiasmo das crianças mal se ouvia a diretora que em pânico exclamava: Meu Deus! Precisamos ajudar o Papai Noel. 
Para piorar a situação o caminho era cercado de pneus como se fosse uma espécie de cerquinha para enfeitar o trajeto. Foi então que uma das rodas do “trenóchete” saiu um pouco da trilha e pegou o primeiro daquela série de pneus. 
Daí pra frente foi um pula-pula incrível. Quando subia ele compensava o corpo se abaixando e quando descia ele se levantava. Gertrudes já estava no pé do morro, próxima do pátio onde se encontrava a criançada quando para escapar do alambrado que cercava o pátio deu uma guinada para esquerda. 
O “trenóchete” acabou seguindo a Gertrudes, mas o Papai Noel e seus lindos presentes no meio da curva fechada foram arremessados com gosto no lindo pergolado de flores e ali se agarrou firmemente. 
A criançada não sabendo nadinha do que estava na realidade acontecendo se deslumbraram com o voo de Papai Noel, mesmo sem o “trenóchete” e aplaudiram muito, mas muito mesmo! 
Vovô Roberto embora um pouco zonzo foi se restabelecendo pouco a pouco do voo e vendo seu netinho Robertinho entre a criançada não se aguentou de emoção. Chorou por trás daquela barba toda desarrumada ao ver a alegria de seu neto que pegava com as outras crianças os brinquedos espalhados. 
Hoje Robertinho já é adulto e lembra-se com carinho do melhor presente de sua vida: seu Avô Noel presente.    


Confusão


Meu Deus, meu Deus do céu,
que baita confusão!
Estão mexendo na panela,
até no caldo do feijão.
Estão falando que eu disse,
que falei o que eu não disse.
Talvez tenha falado,
mas se falei, não digo não.
Cada vez que a boca abre,
mais aumenta a confusão.


quinta-feira, 17 de abril de 2014

Tempestades


Tempestades vem,
sem pudor a minha dor.
Mal, vil seu desdém.



Situação inusitada



A situação a seguir deu-se na semana passada, numa pequena cidade do interior de nosso país. O fato além de insólito possui alta relevância no que concerne à segurança nacional e no entanto, teve sua divulgação abafada.
Eu estava lá, eu vi e ouvi tudo que se passou. Sei da magnitude catastrófica da questão e não vou me omitir em nada, custe o que custar.
Eu estava viajando, já era quase meia noite, quando avistei um imenso bólido luminoso. 
Parei num local seguro e escondi-me entre as árvores.
O imenso bólido flutuava a aproximadamente 100 metros de altura sem emitir um único ruído. Sua dimensão era assustadora, porém a sua leveza me encantava.
Fiquei atônito observando o que poderia acontecer.
Percebi que aos poucos foi chegando pessoas, sem nenhum tipo de preocupação ou constrangimento, bem próximas ao imenso bólido. 
Pareciam ter muita afinidade com aquela situação. 
Embora estivesse distante e escondido, no entanto, reconheci muitas delas. Pessoas ligadas a segmentos políticos, econômicos, segurança, religiosos e outros mais. Também o pessoal ligado ao trânsito apareceu por lá, tentando organizar aquela "muvuca" que se formava.
O bólido iluminado aterrissou, uma grande porta se abriu e criaturas de pele translúcida saíram. Tinham aproximadamente três metros de altura e seus movimentos eram lentos e calmos.
Alguns políticos no afã de entregar “santinhos”, buscar novos correligionários, foram os primeiros a aproximar-se, com um "gentil sorriso e tapinha nas costas".
Certos religiosos proclamavam as vantagens de seus deuses para arregimenta-los em suas comunidades, e aumentar a receita dos dízimos.
Alguns da área econômica ficavam com os olhos brilhantes, talvez já calculando certas vantagens com as novas contas-correntes, oferta de empréstimos tentadores, etc.
Vi alguns também da área de telefonia, confesso que dava até para deprimir, já queriam vender seus "pacotinhos com boas propostas para internet, torpedos." Forneciam sorrindo inclusive, seus extraordinários números de serviço de atendimento ao consumidor, aqueles, que ficam tocando aquelas lindas "musiquinhas".
Alguns ligados a segurança, queriam de qualquer maneira criar uma forma criptográfica para que o papo pudesse rolar só entre eles, ganhando com isso posições estratégicas.  
Alguns agentes de trânsito, estes sim, eu diria que eram fenomenais. Buscavam a qualquer custo encontrar um artigo específico para “canetar” o bólido, os demais que também estavam ali e riam ironicamente do valor daquelas multas todas.
Por incrível que pareça, aqueles estranhos seres conseguiam entender a todos, embora não tivessem boca e comunicava-se sem emitir um único som.
O papo rolou por aproximadamente uma hora. Depois de muito bate-boca e desentendimentos de posturas, o que prevaleceu mesmo para fecharem um “certo acordo”, foi o “quanto cada um iria levar na mutretagem”.
Uma truculenta advertência foi feita para quem desse com a língua nos dentes. Os que não concordaram com o combinado ali, foram atingidos por um raio paralisante, abduzidos e levados sabe lá para onde.
Após tudo resolvido, a negociação foi efetuada e uma imensa carga embrulhada num pacote metalizado foi descarregada da nave.
A seguir sem mais delongas, levantaram voo amargando uma multa por parada em local proibido, aplicada pela intrépida autoridade de trânsito.
Depois que todos se foram, sai apavorado do meu seguro ponto de observação, com os meus pensamentos fervilhando.
A informação que não pode calar eu revelarei agora para o mundo, em primeiríssima mão.
Eu estava escondido mas vi quando o pacote foi aberto na calada da noite. De imediato mostrou possuir um forte, ou melhor, um imenso cheiro de estrume.
Era uma tremenda "caca" na cor e no odor.
Aqueles “Manés da Pilantragem” negociaram com aqueles malditos seres a importação de lixo orgânico intergaláctico.
Alerto desesperadamente a todos que eles querem voltar para fechar novas negociatas! Eles querem fazer as suas “trapaças” e deixar que o nosso povo se lasque.  
Precisamos fazer algo a respeito e com rapidez, ou vamos receber nas próximas eleições novas "cargas de cacas". 
Se apresentam bem embrulhadas em papel laminados, mas por dentro são sujeiras que não tem tamanho. Essas cargas repletas de nocividade vão tentar voltar e necessitamos impedir esse retorno. Será "na urna", com o nosso "não" para esses salafrários que daremos um grande passo para a solução
Nosso querido e sofrido povo brasileiro não merece esse maléfico conteúdo.
  


Sabor de viver, ou não?


Mauricinho acabara de sair da casa de Alicinha.
Estava feliz, sentindo o gosto da vida!
Embora a rua não possuísse nenhum poste, no entanto a luz da lua cheia o ajudava no seu solitário e difícil caminho de volta.
Valentia não era o seu forte e para piorar a sua situação tinha um medo danado de qualquer assunto que tivesse ligação com o além.
Já tinha se esbaldado com o filé e agora o que lhe restava era maltratar a digestão descendo aquele tétrico beco íngreme até chegar à rua onde pegava o lotação.
Lembrou-se que quase morreu de medo quando foi se encontrar com Alicinha no primeiro dia de namoro.
Só não desistiu do namoro porque a garota era de deixar até o mais exigente dos garotos babando.
Sua autoestima sempre foi seu tendão de Aquiles, ou seja nos pés e assim sendo, não se sentia autorizado a grandes escolhas.  
Alicinha era o bilhete premiado que sempre pediu a Deus.
Mesmo num lugar ermo e inóspito como aquele, Alicinha realmente valia o sacrifício. Com esses pensamentos, Mauricinho ia garantindo uma força extra para manter-se no namoro e também de não se borrar todo durante aquele percurso.
Mauricinho se deu conta de que já era meia noite quando escutou o badalar do sino de uma igreja bem longe dali.
Começou a se questionar porque não saiu mais cedo da casa de Alicinha conforme fez na noite anterior. Chegou a questionar o porquê namorar aquela Alicinha se tinha tantas outras “Alicinhas” por aí.
Embora amedrontado, por outro lado sentia-se aliviado por já estar bem próximo do ponto de ônibus. Foi quando avistou uma figura sinistra, toda vestida de negro e que vinha em sua direção.
Tentou raciocinar, colocar uma ordem em seus pensamentos. Não conseguia entender de que local poderia ter vindo àquela macabra criatura. Parecia ter surgido do nada e se materializado ali, justamente vindo em sua direção.
Mergulhado numa infernal paúra e sem qualquer sentimento de dúvida, ele deu um “cavalo de pau” e voltou novamente para o beco. Só que desta vez, morro a cima. 
Sabem como é a história morro a baixo é uma coisa, mas a cima é outra bem diferente.
Nessa inversão súbita de rota Mauricinho colocou entre outras coisas, também o bofe todo para fora. Sua situação era deprimente.
Só ganhou forças e colocou novamente tração nas pernas quando percebeu que o monstruoso “dito cujo” estava se aproximando.
Quando já estava diante da casa da bela Alicinha, ele se desfaleceu e ali ficou até o amanhecer.
Foi se recobrando aos poucos em função da luz dos primeiros raios de sol e dos burburinhos dos que desciam para o trabalho.
Sentia-se além de borrado, um perdedor.
Não tinha coragem de recorrer a Alicinha e simplesmente retornou a pé para casa.
Os dias foram se passando e nada de Mauricinho retornar a casa de Alicinha.
Alicinha foi procurar por ele, soube que havia se mudado, não deixou o novo endereço e nunca mais o viu.
Conforme o velho ditado: “quem não está disposto a enfrentar certas dificuldades na vida, nunca terá a satisfação de viver” com uma encantadora Alicinha.


O jovem e indefeso Basílio



Basílio foi criado com muito afeto desde pequenino por Seu Epaminondas. Com o falecimento deste, seus filhos ficaram com a tarefa de continuar cuidando do jovem e indefeso Basílio.
Como nenhum deles tinha essa possibilidade se viram numa situação muito difícil e complicada.
Não que Basílio fosse mal, pelo contrário, sempre foi muito amado por toda a família.
Era meigo e dócil, porem necessitava de cuidados especiais, situação essa que nunca faltou enquanto Seu Epaminondas viveu.  
Depois de muitas reflexões decidiu-se que Basílio, talvez pudesse ir morar na casa de Seu Belarmino, um velho amigo da família.
Assim que soube da situação seu Belarmino prontamente aceitou receber Basílio em sua casa e criá-lo com todo carinho.
E assim foi feito!
Numa linda manhã de sábado Basílio chegou a sua nova casa, tendo sido recebido com alegria por Seu Belarmino e sua esposa Dona Gertrudes.
Basílio já tinha um novo lar, porem nos primeiros dias era nítida a sua tristeza.
Sempre foi alegre, gostava de cantar e, no entanto, passava o dia todo jururu, parecia realmente desconsolado.
O tempo foi passando e graças aos bons tratos da nova família, superou a sofrida fase do luto e aos poucos seu desanimo foi desaparecendo.
Como todo bom sabiá que se preze Basílio passou novamente a exibir orgulhoso e com elegância sua linda plumagem.
Adorava tomar banho e tinha um apetite invejável, alimentando-se de ração, jiló, laranja, e tantas outras guloseimas que lhe eram servidas.
Quando lhe coçavam a cabeça ficava imobilizado com o prazer que aquilo proporcionava, a ponto de dormir.
Em função do espaço que tinha dentro da gaiola e aos diversos poleiros disponíveis, Basílio aproveitava para fazer os mais incríveis malabarismos.
Porem para que isso fosse possível, era necessário que Basílio tivesse de tempos em tempos suas unhas devidamente aparadas, pois, caso contrário o comprimento delas não lhe permitia firmar-se no poleiro.
Este delicado trabalho era efetuado sempre por Seu Belarmino, que era um homem muito habilidoso.
Estas qualidades eram realmente necessárias, pois embora Basílio tivesse um porte grande, sua estrutura era frágil e delicada.
Foi então que um belo dia Seu Belarmino chegou em casa e viu Dona Gertrudes chorando inconsolável com Basílio nas mãos.
Disse-lhe em desespero, que resolveu fazer as unhas de Basílio para aprender e ajudá-lo neste trabalho.
Para não o machucar disse que teve o maior cuidado ao segurá-lo entre os dedos. Fez o corte e passou a lixa tão lentamente a ponto do Basílio com o tempo ficar quietinho e dormir.
Só que ao abrir as mãos ficou preocupada com aquele sono tão profundo.
Com medo de estar acontecendo algo com o Basílio resolveu fazer uma respiração “boca a bico”, mas que ele continuava ali quietinho, já fazia uns dez minutos.
Seu Belarmino percebendo que o belo sabiá ali jazia e que Dona Gertrudes em lágrimas vertia, resolveu com sabedoria e carinho socorrer quem ainda podia.
Dona Gertrudes nasceu e foi criada na roça. Ainda menina trabalhou na lavoura, na árdua tarefa do corte de cana, e mesmo depois de tantos anos ainda conservava aquelas pesadas mãos que o trabalho um dia lhe requereu.
Seu Belarmino entendeu o seu coração aflito e ficou ali por um longo tempo ao seu lado, sem censura, sem críticas, apenas com o calor da compreensão e do acolhimento.
Sabia apesar dos pesares, o quanto as mãos fortes e firmes de sua esposa, fizeram a diferença no decorrer de suas vidas e na criação sublime e amorosa dos filhos.
Assim os dias se passaram e Basílio, quem sabe hoje ao lado de Seu Epaminondas, sorriam felizes por cumprirem a missão de terem feito pessoas felizes deste lado.



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