Quando pela primeira vez ouvi
alguém falar a respeito de sarau, fiquei escutando com atenção para saber o que
aquela palavra que soava tão gostosa nos meus ouvidos poderia representar.
É interessante como certas
palavras tem uma sonoridade tão gostosa e envolvente, e como isso ganha uma
dimensão ainda maior quando se descobre que o seu significado tem tudo a ver
com a gente.
Eu era garoto, ainda lembro com
detalhes, que meus pais recebiam seus amigos em casa com constância. Eles se
reuniam para conversar, filosofar a respeito de diversas questões, falar sobre
livros e poesias, falar de filmes, ouvir músicas, tocar gaita, violão e cantar.
Eu achava aquilo tudo muito
bonito e especial, assim como achava muito interessante o fato de até o padre
da cidade, “Padre Ângelo”, com batina e tudo, também participar das conversas e
cantorias com uma satisfação incrível.
Embora eu participasse como
um expectador infantil, cada momento dessas tantas reuniões tinha certas
particularidades que ainda me recordo com alegria.
Eu me recordo que eles
cantavam músicas de Maysa, Dolores Duran, Lamartine Babo, Noel Rosa, Miltinho,
e de tantos outros mais. Falavam a respeito dos contos de Mark Twain, Eça de
Queirós, Saint-Exupéry, Miguel de Cervantes, Olavo Bilac, Machado de Assis,
Monteiro Lobato e outros.
Voltando a questão do Sarau,
foi bem gostoso saber que essa palavra vem do latim *seránus” que
significa relativo ao anoitecer, de serum (tarde, pôr do sol),
do galego “sarao”.
É justamente empregada para
reunião festiva e descontraída entre amigos, que geralmente tem início ao cair
da tarde. Um momento onde se ouve música, assiste filme, filosofa, canta,
fala-se trecho de livros, declama-se poesia. Um momento de troca de vivências
ligadas as artes e a cultura.
Muito mais gostoso ainda é
confirmar que algo tão bom e que faz tão bem para a nossa saúde cultural e
emocional me foi oferecido pelos meus pais e que pude aceitar e vivenciar ainda
tão jovem.