Conforme meu hábito diário, saí logo cedo para caminhar com
minha querida cadela Tuca.
Durante meu trajeto passo por várias escolas, desde as
modestas até as mais vistosas.
É incrível como essa atividade de fazer caminhada, antes tão
monótona, ficou muito mais agradável em companhia da Tuca, e muito mais ainda
após o retorno das crianças às aulas.
Percebo que até a Tuca demonstra essa alegria não tirando os
olhos das crianças, que também olham com encantamento para ela, mesmo porque
ela realmente é muito linda.
Visualizar a alegria da criançada chegando à escola, a
correria delas, as brincadeiras e provocações infantis umas com as outras, a
preocupação carinhosa dos pais, tudo é muito bom e divertido.
Remete-me as mais antigas, e às vezes infelizmente esquecidas
lembranças deste tempo delicioso, intenso e rico de vivências.
Foi nestas circunstâncias que me deparei e parei, para
saborear uma cena de proporções tão grandiosas que certamente jamais
esquecerei.
Eu estava bem próximo de uma pequena escola de bairro, quando
vi um homem de sandália de dedo, roupa surrada pelo uso constante, empurrando um
carrinho de mão, desses que se usam em obras, e a “carga” eram três crianças.
Os quatro davam deliciosas risadas com as manobras divertidas.
Ao estacionar a modesta condução da alegria, esse homem
esperou as crianças descerem, e com um beijo carinhoso em cada uma, despediu-se
dizendo “fiquem com Deus filhos” e seguiu sua trajetória, possivelmente para o
trabalho.
Fiquei ali por mais alguns instantes, refletindo maravilhado a
respeito daquela aula incrível de afetividade, e daí continuei com minha
caminhada com a minha fiel companheira Tuca.
Seguimos o caminho habitual, e foi então que depois de muito
suor e passos dali, numa outra escola, um belo carro, com vidros escuros, rodas
de liga leve, e tantos outros requintes merecedores de parar para ver, estacionou.
Desceu um homem que realmente chamava a atenção pela elegância
que se vestia.
Calça azul marinha, camisa de manga comprida azul clara,
sapatos pretos bonitos e engraxados, uma bela gravata em tons vermelho e azul.
Abriu a porta traseira do suntuoso veículo, esperou a criança
descer, pegou sua mochila escolar e abaixando-se ajudou carinhosamente a
criança a vesti-la nas costas.
Depois disso deu-lhe um abraço apertado e com um beijo
desejou-lhe boas aulas, tendo em seguida partido no veículo que quase não se
ouvia o barulho do motor.
Eu e a Tuca demos arranque nas pernas, e por todo percurso fui
refletindo quanto aquele início de aulas.
A primeira lição mostrara de maneira viva, que afeto não é uma
exclusividade de classe social ou econômica, mas sim daqueles que conseguem
transformar o dia em algo admirável e belo por mais que sejam as suas
adversidades.