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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Viver novamente



Meu coração chorou,
chorou muito, chorou forte.
Contrição de morte,
pelo nunca que chorou.

Doeram os nós dos meus dedos,
do tanto que bateram na porta.
Uma, duas, as vezes não importam,
até que se abriram os segredos.

Agora aquele fechado coração
distante, frio, ausente,
chora feliz em vertente,
de viver tanta emoção.



domingo, 14 de setembro de 2014

Tardes de maio


"Tardes de maio”
material utilizado: acrílico e papel vergê

Autor: João de Azeredo Silva Neto



Sobreposição



"Sobreposição”
material utilizado: giz pastel e papel vergê

Autor: João de Azeredo Silva Neto




quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Uma história doce como um “pastelzinho de Belém”



Dona Aparecida voltava para casa com sua costumeira dor nas pernas e sua crônica tossezinha.  Não perdia a missa diária das dezessete horas e, tão logo escutava o “vamos em paz”, levanta-se escutando “o senhor vos acompanhe” já na porta, para evitar as aglomerações na saída.
Era muito aflita, não suportava filas e sua tolerância ao esperar era zero.
Durante a missa suas orações e cânticos eram sempre na frente do padre e dos demais fieis.
Por ter uma voz aguda ela sempre acabava se destacando formando um efeito acústico irritante.
Não era seu costume transitar fora de casa na companhia da escuridão, fosse só ou acompanhada. Tinha verdadeiro pavor de se resfriar, assim sendo nunca se atreveu abusar da temperatura da noite, alegando ser muito sensível e vulnerável a tais exposições.
Orgulhava-se de seus costumeiros e cautelosos hábitos, pois mantinham-na sempre protegida dos perigos horrendos da pneumonia e da tuberculose. Atribuía tais doenças aos boêmios, aos desvirtuados morais, aos mundanos e pecadores, companheiros das lascívias da noite.
Conforme o costume passava na padaria do Seu Manoel e levava uma baguete, fazendo questão de frisar “bem queimadinha”.
Seu Manoel era viúvo, bem mais velho que Dona Aparecida e sempre fez questão de transparecer seu encantamento pela arredia senhora. Ora com um elogio, ora com um olhar cobiçoso, ora com uma sugestiva proposta de “deixa pra lá Dona Cida a baguete fica por minha conta”, pronunciado com um simpático sorriso e com seu carregado e imperdível sotaque lusitano.
Essa condição deixava Dona Aparecida muito desconcertada, com as faces num imenso rubor, denunciando de imediato seus mais latentes sentimentos.
Pegava a baguete, pagava e tentando esconder até de si mesma sua satisfação ao cortejo, saía gesticulando e falando palavras desconexas que até pareciam repúdio.
Seu Manoel adorava aquela encenação toda de Dona Aparecida e sentia-se realizado e viril.
Gabava-se de seu “borranchincho” e de sua velha forma de abordagem.
Enrolando o farto bigode e cantarolando dizia: "deu certo com a finada Maria, assim haverá de dar com a minha almejada Cidinha".
Dona Aparecida tão logo chegou em casa, ligou a televisão em um desses programas populares de tragédias da vida diária. Não perdendo o que se falava foi esquentar sua sopinha.
O apresentador ia reforçando os fatos dezenas de vezes, com formas auditivas e visuais diferentes, para obter a garantia que a pobrezinha da Dona Aparecida não se livrasse dele e daquelas macabras informações trocando de estação.
Mal começava a primeira novelinha da noite ela já estava num cochilo lascado no sofá.
Costumava ir para cama por volta das vinte horas e no dia seguinte levantava-se bem cedo.
Suas atividades do dia a dia eram rotineiras e metódicas.
O que realmente mudava o quadro daquela rotina eram as investidas apimentadas do Seu Manoel que agitavam os sonhos da Dona Aparecida.
O tempo foi passando e entre perseverança, muitos gracejos e baguetes do Seu Manoel, a seduzida já estava com o coraçãozinho mexido.
A essas alturas já se deixava ser chamada, sem resistências, apenas de “Cidinha”.
Ela perambulava após os cultos livremente pelo outro lado do balcão, quer servindo os fregueses, quer no caixa, onde rolava até furtivas beijocas.
A relação estava indo tão bem, que o seu garboso “Manoel” lhe ensinou os segredos de seus consagrados bolinhos de bacalhau e, até mesmo dos pasteizinhos de Belém.
A padaria já era um sucesso do bairro, mas com o apoio da Cidinha “bombava” muito mais.
Eles faziam planos, deliciavam-se com as conquistas e tudo que acontecia entre os dois era plenamente comemorado com alegria pelos habituais fregueses.
Era uma graça vê-los fechando a padaria por volta das vinte e três horas e indo abraçadinhos embora.
Manoel a deixava na porta de casa, dava-lhe um acalorado beijo, deixando-a pronta para varar a noite com sonhos repletos de confeitos de malícias e travessuras.
Foi que numa bela tarde, padaria lotada, Cidinha proclamou em alto e bom som o seu imenso amor pelo Manoel.
Ele não se contendo de paixão, aproveitando os aplausos e sorrisos da galera, abriu de imediato a gaveta do caixa e retirou um estojo vermelhinho que guardava há muito tempo.
Abriu, mostrou para a sua Cidinha e disse num sotaque que deu gosto a todos de ouvir: Aceitas se casar comigo Cidinha?
O povão vibrou e a Cidinha amou a proposta, dizendo um belo e audível “SIM”.
Lógico, saiu um longo beijo e muitos aplausos.
Proclama cumprido, fregueses, amigos e até mesmo o padre aguardavam ansiosos na porta da igreja do bairro.
Toca-se a música e entra a Cidinha deslumbrante toda de branco, como era o seu sonho secreto desde criança.
Quem passa pela padaria do Manoel e da Cidinha, pode testemunhar até hoje essa linda história de amor, uma história doce como um “pastelzinho de Belém”.



sábado, 6 de setembro de 2014

Amores da Primavera




Os passarinhos anunciam:
lá vem ela!
Com suas becas tão belas,
saem fulgurantes, revoantes
para o baile da primavera.
Voos rasantes, sinfonias,
fazem festas de alegria.
Saem de um lado vão para outro,
batendo asas no infinito céu anil.
Onde tudo é muito pouco,
onde o pouco é muito pio.
Não bastando tudo isso,
o sol não poderia faltar.
Seu calor e brilho fazem cenário
a tons vermelhos, azuis e amarelo canário.
Lá embaixo o salão está pronto.
Nada escapou do ponto e contraponto.
As arvores majestosas e imponentes
exibem seus galhos, folhas e flores
como mães felizes e contentes.
Flores as mais delicadas e singelas.
Com formas, perfumes e cores
fazem palco a tantos outros animais,
assim como eu, você e tantos outros pares.
Cenário de grandes amores!
Plenário de encantos da primavera!



Ponha mandioca nisso...


Um dia destes vi um anúncio na televisão em que aparecia uma pessoa exibindo com alegria a mandioca que havia colhido, digna das melhores classificações no “livro dos recordes”.
Aquele anúncio me fez recordar o Terêncio, que morava na minha querida Santa Branca/SP.
Eu ainda era um garoto e me lembro que minha mãe pediu-me para comprar fósforo no bar do Seu Agenor.
Interessante lembrar duas coisas, nessa época o fogão de casa era aceso com fósforo e na calçada do bar do Seu Agenor tinham duas argolas de ferro fincadas no chão para amarrar cavalos.
Bem, assim que pedi o fósforo chegou um tal de Terêncio, montado num cavalo negro mais bravo que o “coisa ruim”.
Nessa época de criança para mim só o nome Terêncio já me causava pavor. A empregada de casa vivia contando casos de que ele era encrenqueiro. Para piorar os meus medos ele chegou de chapelão, todo vestido de preto, cravando as esporas no pobre cavalo, colocando-o aos pinotes. Depois daquela cena toda, apeou o danado, amarrou-o na argola e entrou no bar exibindo um enorme anel no dedo e uma grossa pulseira dourada junto ao relógio prateado.
Terêncio era baixo muito magro. Usava botas com saltos de estilo carrapeta e as esporas possuíam imensas rosetas pontiagudas que iam batendo no chão causando um barulho fúnebre.
Parecem tolos detalhes, mas para a minha cabeça de criança eram muito marcantes.
Diante daquela situação toda o que eu mais queria era pegar a bendita caixinha de fósforo e sumir “no pé” pra minha casa.
Vi quandoTerêncio pediu uma “purinha” no capricho, dizendo que era pra comemorar com todos. Até arrepiei pois eu também fazia parte do todo.
Seu Agenor serviu-lhe num copo americano aquele lavrado de pinga e ele arrematou-a num gole só.
Fiquei ali do lado observando e pensando como podia com um calorão danado que estava fazendo, uma pessoa tomar aquela pinga toda num gole só.
Eu achava inconcebível alguém fazer aquilo com água quanto mais com pinga.
Após tomar aquela generosa dose de pinga, comentou com o Seu Agenor de maneira que todos que ali estavam o escutassem, que por pouco não havia dado uma sova num caboclinho que morava perto do seu sítio.
Quando eu escutei aquilo já comecei a me preparar para o meu galope pessoal, mas sabe como é curiosidade de criança...um lado de mim queria ir, o outro queria ficar para escutar o que houve com o tal do caboclinho. Foi este lado que me prendeu ali.
Continuou a história dizendo que estava criando uns leitõezinhos para vender no natal até que percebeu, com o passar dos dias, que estavam sumindo do seu sítio alguns leitões e também as mandiocas que plantava. Queria dar uma lição no bandidinho miserável. Foram dias de tocaia na tentativa de pegar o safado comedor de torresmo com mandioca e nada.
Percebia que os porquinhos sumiam, e no lugar da mandioca ficava só o buraco da raiz arrancada.
Foi que, já desanimado, teve uma ideia. Amarrou no pescoço do último leitão que lhe sobrara uma sineta. Assim que a noite chegou já se colocou de tocaia, na esperança que daquela noite o safado não ficaria sem uma boa coça.
Já era de madrugada, quando a sineta começou a tocar. Olhou para o leitão que parecia agitado a andar pelo sítio.  
Foi seguindo o leitão pelo barulho da sineta, até que este parou diante de um dos últimos pés de mandioca que ainda lhe sobrara. O leitão parecia estar com muita fome.
Começou a devorar as folhas, depois foi pro talo e quando nada mais restava começou a cavar um buraco enorme, para comer a própria mandioca.
Terêncio diante daquela situação de “resolvo essa questão custe o que custar”, não mediu consequências e se enfiou buraco a dentro atrás do porquinho.
O leitãozinho com aquele apetite todo, desandou a comer a mandioca que parecia não ter mais fim. O buraco ia ficando cada vez mais fundo e o Terêncio atrás.
Depois daquela escavação toda Terêncio percebeu que o leitão saiu do buraco e quando também o fez, teve uma grande surpresa. Viu que todos os seus leitõezinhos sumidos estavam ali porem, imensos de gordos, como grandes cachaços. Percebeu também que esse outro lado do buraco, estava do outro lado do rio, cujas terras pertenciam ao seu vizinho. Terêncio avaliou bem a situação e chegou à seguinte conclusão.
Sua propriedade possuía uma terra tão boa, mas tão boa, que ajudou a mandioca a crescer a ponto de atravessar o rio por baixo de seu leito e chegar no sítio do vizinho.
Como os leitões haviam engordado muito com aquela farta alimentação, não tinha como colocá-los mais de volta no buraco conduzindo-os as suas terras.
O jeito foi ir tocando aquela porcada toda noite a dentro, de volta pro seu sítio pela estrada mesmo.
Fechando o assunto, Terêncio pediu pro Seu Agenor servir a todos, por conta dele, uma dose bem lavrada da “marvada branquinha’, e olhando para mim acrescentou: pro garoto não! Pra ele serve um pão com mortadela e Q-Suco.
Despediu-se, e depois de soltar o cavalo da argola, montou no pobre coitado que já saiu riscando os cascos no chão.
Tomei o Q-Suco e fui correndo pra casa comendo o pão com mortadela e com a caixa de fósforo na mão. 
Ao chegar em casa minha mãe me deu um "pito" pela demora.



quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Seja bem-vinda Primavera!



Tenho um jardim de primaveras, roseiras e azaleias.
Saudar o que é bem-vindo não é quimera.
Basta olhar cada brotinho crescendo,
depois, viver a emoção dos botões se abrindo.
Por estas e outras é que canto este refrão:
“salve o meu jardim de flores,
seja bem-vinda Primavera”! 



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