Há 25
anos em um curso de pós-graduação em São Paulo, o reitor da universidade que eu
estudava entrou na sala de aula, acompanhado de um simpático senhor.
Ele era baixo, cabelos grisalhos, aparentava
uns 74 anos de idade, de origem italiana, formado em história e antropologia.
Elegantemente
trajava um belo paletó xadrez de lã no estilo escocês, com as pontas de um
lenço de seda bordô aparecendo no bolso frontal. Não havia vulgaridade ou
excessos em seu trajar, pelo contrário, havia beleza, equilíbrio e distinção.
Concluindo seu visual, usava também um cachecol e um belo par de sapatos marrom
com impecável brilho.
Iria nos
dar uma palestra cujo tema era: “a reconstrução do belo”.
Antes de iniciar
ele fez questão de apresentar a sua esposa, que tomou acento ao lado de nosso
reitor e demais convidados de honra.
Ela era alta,
magra, aparentava uns 67 anos, pele e cabelos muito claros e seus olhos
possuíam uma tonalidade azul claro indescritivelmente bela.
Trajava
um vestido fino de lã no tom cinza claro, sapatos de salto alto, como adorno
apenas um delicado colar, uma pulseira e aliança. Deslumbrante!
Sua maneira
de gesticular era delicada, sua voz possuía um timbre suave e se apresentou
dizendo ser austríaca, formada em literatura anglo-saxônica e finalizou
agradecendo a oportunidade daquele momento. Precisa, com poucas palavras.
Ele veio
para o Brasil na condição de curador de uma exposição de obras de arte,
representando um conceituado museu europeu.
Demonstrava
um incrível conhecimento e segurança no que dizia, assim como uma imensa
facilidade na ordenação desses conteúdos.
Embora falasse
com uma voz suave e calma, em certos momentos como todo bom italiano, diante de
certos temas, se deixava envolver numa vibrante empolgação. Seus sentimentos de
pesar ou de alegria se afloravam e contagiava a todos. Parecia que estávamos
com ele no momento do fato.
Entre
tantas coisas magníficas que disse, uma eu senti como se tivesse dito somente
para mim.
Comentou com
grande emoção e lágrimas a respeito das belezas de sua pequena cidade natal. Relembrou
com detalhes o pequeno chafariz em mármore de Carrara, construído durante o
império romano. Uma obra pequena, delicada, uma preciosidade que atraia pessoas
de vários lugares do mundo para vê-la, tal era o seu poder de encanto.
Durante a
segunda guerra mundial, a sua bela cidadezinha e outras próximas, vivenciaram
uma noite de horror, com horas de intenso bombardeio. A dor maior foi quando os
moradores puderam sair de seus abrigos e vivenciar a dimensão de destruição de
uma guerra.
Além das
perdas inestimáveis de parentes e amigos, aquele precioso patrimônio cultural,
entre outros, também havia sido destruído.
Após a
guerra, os moradores resolveram reconstruir aquela preciosidade e foi
necessário muito tempo, envolvendo união, esforço e dedicação.
Muitos pedaços
estavam soterrados, outros encontrados bem distantes, mas a verdade dos fatos é
que foram garimpados, peneirados, catalogados, juntados um a um até que aquela
obra tão bela e impregnada de significados pode ser novamente admirada.
A
palestra teve continuidade, mas lembro-me ainda com emoção, que tão logo ouvi
aquela história pensei na beleza de nossa “Praça Elvira Lopes da Costa”. Acho
que todos nós merecemos uma “Fonte de Encantos” e daquele momento em diante, assim
se tornou para mim o aprazível “Largo do Riachuelo” aqui de Jacareí.
Hoje,
muitos anos após aquela memorável palestra, quando passo por ali, que delícia
ver que essa “Nossa Charmosa Praça” está tão bela.
Todo o
entorno da praça dá suporte para a manutenção e realização de eventos culturais
de toda natureza, durante o ano inteiro.
Em função
de sua pequena dimensão e diante das tantas atividades culturais que ali se
realiza diuturnamente, ao longo do tempo “Nossa Pracinha” foi naturalmente buscando
apoio das ruas Treze de Maio e Antônio Afonso, envolvendo generosamente a Praça
Anchieta na participação plena desse cenário cultural e turístico.
Assim
também ocorreu com as ruas Luiz Simon e Vicente Scherma, esta última inclusive
cedeu a sua antiga fábrica de tintas e hoje abriga um maravilhoso centro de
exposições, com mostras de nossos famosos cactos, de toda gama de trabalhos de
nossos artistas plásticos, de nosso rico artesanato cerâmico, inclusive as
famosas “Paulistinhas”, trabalhos fotográficos e outras belezas mais.
Nas
manhãs de sábado e domingo nosso acolhedor Largo do Riachuelo, acabou se
transformando na “famosa feira Benedito Calixto do Vale do Paraíba.
A
Academia Jacarehyense de Letras promove diversas atividades literárias, tais como:
declamação de poesia, varal de poesia, café literário, sarau literomusical, concursos
literários inclusive de abrangência internacional.
As casas
que antes serviam para moradia na Praça do Largo do Riachuelo, Praça Anchieta e
ruas adjacentes, hoje se destinam basicamente a fortalecer a atividade turística
e cultural de Jacareí.
Aí vemos
com vigor a riquíssima atividade gastronômica de nossa cidade, com restaurantes,
botecos e barzinhos servindo, inclusive e com requinte, o nosso famoso
patrimônio “bolinho caipira”.
Jacareí é
uma cidade hospitaleira e berço de cidadãos de todas as etnias, assim sendo
essas riquezas também são vislumbradas na diversidade de suas músicas, poesias,
cores, gostos, temperos e sabores.
Nessa região
cultural da cidade, para todas as idades e gostos, vemos apresentações de
grupos de teatro, dança e música, não só realizados ao ar livre como em
ambientes fechados.
Durante
todo mês de junho a cidade fica repleta de turistas que vem para participar das
já famosas noitadas dos “Seresteiros Apaixonados” que se unem a poetas,
populares e turistas, todos apaixonados cantores, que saem da Praça do Largo do
Riachuelo para uma imensa “Serenata Pelas Ruas da Cidade”
Uma
delícia de se ver, ouvir e participar!
Ao longo
desses anos, essa forte e bela atividade turística cultural, vem trazendo
significativo progresso econômico para a cidade, atraindo não só turistas como investidores
financeiros.
A rede
hoteleira e gastronômica não só melhorou como ampliou. O comércio em todos os
setores teve uma expansão significativa. Ganhamos uma fábrica de produtos musicais,
capital nacional, incluindo instrumentos de sopro de alta tecnologia e
qualidade, o que há muito tempo era esperado pelos músicos brasileiros,
principalmente porque o Brasil é um dos maiores produtores e consumidores de
sua própria música no mundo.
Bem vindas
também, foram as duas novas empresas do setor cerâmico artesanal, de esmerado requinte,
que fazem no inverno a sua grande “Festa Noturna de Abertura dos Fornos”,
atraindo muitos turistas.
Claro que
tudo isso aumentou em muito, a arrecadação de impostos para a nossa querida
Jacareí e consequentemente estão sendo revertidos em melhorias significativas para
o próprio turismo, educação, saúde e segurança. Muitas oportunidades de emprego
foram geradas com essa prospera atividade turística cultural.
Todas as
vantagens desse novo poder aquisitivo são sentidas pela população, com a
concretização de seus anseios e conquistas familiares.
Realmente,
conforme meu estimado preceptor de pós-graduação sabiamente falou “a reconstrução
do belo”, possui um poder infalível de gerar requintes.
Requintes
na arte de unir pessoas, de humanizá-las, de torna-las mais sábias, felizes e prósperas
em todos os sentidos.
A minha história envolvendo o meu professor é
real, a da Praça do Largo do Riachuelo é real quanto a sua beleza e charme.
Também é real a do povo de minha estimada Jacareí quanto ao seu imenso valor
humano e laboral.
Quanto ao
restante dessa história, a realidade acontecerá a partir de nosso garimpar,
peneirar, catalogar, juntar todas as partes preciosas dessa “nossa pracinha”
tão bela.
Assim
poderemos apreciar pra valer, todos os devidos significados e requintes que a
“Praça do Largo do Riachuelo” quer e pode nos oferecer.
Autor:
João de Azeredo Silva Neto
Membro da
Academia Jacarehyense de Letras
Cadeira
nº 4 – Patrono: Orlando Hardt