Abelardo mal sentou-se no banquinho do balcão da padaria
e Seu Manoel gritou para a cozinheira que soltasse o PF do Abelardo.
Abelardo contrapôs dizendo que iria só de média com pão e
manteiga.
Seu Manoel ficou indignado, pois era um cliente tão
habitual que a cozinheira até conhecia seu peculiar gosto de ser servido com o
feijão sobre o ovo frito.
Seu Manoel serviu
e observou que Abelardo reforçou a média com bastante açúcar, costume muito
utilizado pelos moradores de rua da região.
Seu Manoel aguardou que Abelardo concluísse o que estava
comendo e lhe perguntou se estava acontecendo alguma coisa, e se poderia
ajudá-lo em algo.
Abelardo disse-lhe que estava fazendo serviço de pedreiro
em uma obra ali por perto.
Embora a mesma estivesse em fase de acabamento, estava
tranquilo, pois já tinha acertado um novo trabalho para os próximos meses.
Porem com essa história da crise mundial, a pessoa
desistiu de continuar a obra.
Desta maneira achava melhor apertar o cinto para não ter
gastos fora de suas possibilidades.
A essas palavras Seu Manoel lhe explicou que aquilo não
era necessário.
Que ele poderia comer a vontade e depois debitar a conta
no cartão de crédito, ao que Abelardo constrangido lhe informou não possuir.
Seu Manoel acabou rindo e disse-lhe que era muito fácil
obter um, e que ele não podia ficar naquela situação.
Comentou ainda que muitas daquelas pessoas que estavam
ali comendo certamente iriam debitar no cartão de crédito, para pagar depois.
Abelardo pediu explicação a Seu Manoel de como poderia
gastar no cartão se não tivesse o emprego garantido para pagar depois.
Seu Manoel explicou que o negócio era gastar. Gastar para
que todo mundo pudesse ter como ganhar, e assim dar emprego pra outro, e isso é
que faria com que ele não ficasse sem trabalho.
Nesse momento Abelardo até coçou a cabeça de tão confuso.
Perguntou ao Seu Manoel como faria se gastasse com o
cartão e depois não tivesse o dinheiro para pagar.
Seu Manoel sem muitas reservas e intimidações lhe disse
que se não tivesse como pagar era só não pagar, pois essas empresas já cobravam
juros altos para os que pagam estar pagando pelos que não pagavam.
Abelardo ainda mais perplexo perguntou como ficaria então
se todo mundo não pudessem pagar.
Seu Manoel lhe disse que essas empresas iriam então
entrar em uma crise financeira e assim pedir dinheiro para o governo. Este por
sua vez irá emprestar o dinheiro para ser pago a longo prazo, com juros
baixinho, e assim evitar que a empresa quebre e não mande ninguém embora.
Aquilo era realmente muito complexo para Abelardo, que
continuou perguntando quem então iria pagar o governo.
Aí sim Seu Manoel caiu na gargalhada dizendo: ora
Abelardo o governo vai aumentar os impostos e novamente repor o dinheiro em
caixa.
Abelardo perplexo e abalado saiu da padaria se
questionando: então eu peço a média com pão e manteiga para bancar o pessoal
comendo o meu feijão com ovo?
Eu hein...