Pela terceira vez naquela semana Pedrinho estava
atrasado e certamente iria ser advertido pela professora. Ele estudava numa
pequena escola rural e sempre se distraia com as tantas coisas que via pelo
caminho. Ou era num pé de goiaba que acabava subindo para se deliciar, ou eram os
passarinhos que ele tentava imitar o canto, ou tantas outras coisas agradáveis.
Para evitar todo o aborrecimento que certamente iria
ter com a professora, ganhava tempo cortando caminho passando por dentro do
sítio do Seu Zé.
Naquela manhã ao se aproximar da casa do Seu Zé,
percebeu que ele cuidava alegremente de sua horta.
Uma horta maravilhosa, com pezinhos de pimenta,
pimentão, tomate, alface, couve, além de plantinhas de cheiro como tomilho,
salsa, manjericão, alecrim, hortelã, orégano, cebolinha, cheiro verde e outras
mais. Tudo aquilo conferia àquele espaço um tom inesquecível de beleza,
frescor, cores e perfumes.
Seu Zé estava tão entretido com a horta que nem percebeu
quando Pedrinho tropeçou num galho seco, levou um tombo e deixou escapar um
gemido de dor no joelho, que ficou todo ralado.
Conclusão, essa situação atrasou ainda mais Pedrinho,
que ao chegar na escola, foi repreendido e recebeu um bilhete da professora
para entregar aos pais.
Pedrinho mal conseguiu assistir a aula de tão furioso
que ficou com aquela situação. Sua raiva era tão grande que para não sentir-se
mal com seu próprio erro, resolveu colocar a culpa no coitado do Seu Zé, que
não tinha nada com o caso.
Tão logo saiu da escola pensou: “vou passar de novo no
Sítio do Seu Zé e vou dar-lhe o troco”.
Ao chegar lá sentiu o cheiro delicioso que vinha da
horta do Seu Zé, que há pouco tinha sido regado.
Pedrinho ainda com aquela raiva no coração e também
com um medo danado de ser pego fazendo malvadeza, deu uma corrida pela horta danificando
alguns pezinhos daquelas lindas hortaliças. Depois saiu correndo, dando muita
risada, rumo a sua casa.
Ao chegar em casa pensou mil vezes se entregava ou não
o bilhete da professora para sua mãe porem, temendo as consequências ainda
piores, acabou entregando.
Sua mãe leu atentamente o bilhete e disse-lhe:
- Pedrinho sua professora está me avisando que você é
um menino educado, estudioso, que tira notas boas mas não tem chegado no
horário correto. O que está havendo meu filho?
- São os passarinhos, as nuvens, as pedras e tantas
outras coisas bonitas que vejo na estrada e acabo me distraindo e perdendo o
horário mamãe.
- Realmente todas essas coisas são muito bonitas e
devem mesmo serem vistas meu filho, porem vamos combinar o seguinte: você deverá
sair mais cedo e assim dará tempo para tudo isso, sem perder a escola que
também é muito importante.
Pedrinho mais do que depressa concordou feliz da vida.
Madrugada a dentro, todos dormiam profundamente, quando
Pedrinho deu um imenso berro e acordou a todos de maneira assustadora.
Seus pais de imediato foram ao seu encontro
acalmando-o. Pedrinho havia sonhado que tinha comido salada e que as plantinhas
começaram a falar dentro da sua barriga, deixando-o apavorado.
Sua mãe explicou-lhe que todas as plantinhas que são
colocadas na salada são para fazer bem para as pessoas e que jamais elas iriam
querer assusta-lo. Isso foi o suficiente para Pedrinho acalmar-se e dormir
tranquilo.
Conforme combinado Pedrinho saiu para escola bem
cedinho e fez questão de passar na casa do Seu Zé. Encontrou-o novamente ajoelhado,
cantando e cuidando de alguns pezinhos de pimentão. Percebeu que as plantinhas
que tinha pisado já haviam sido replantadas.
Disse numa voz alegre:
- Bom dia Seu Zé!
Obteve também com alegria:
- Bom dia Pedrinho, está indo para a escola?
- Estou sim, mas antes queria dizer para o senhor que
sonhei com as suas plantinhas. Contou-lhe o sonho que teve.
Seu Zé, entendendo tudo que na realidade havia se
passado disse-lhe:
- Sabe Pedrinho há muito tempo atrás, quando eu era um
garoto do seu tamanho eu tive um sonho igualzinho ao seu. Também fiquei muito
assustado e, assim como no seu caso, meus pais também conversaram comigo. Me disseram
as mesmas coisas que seus pais te disseram, e que se eu cuidasse com bastante
alegria e carinho das plantinhas elas seriam minhas protetoras, igual “anjinhos
da guarda” só que em vez de vir lá do céu vem de vários outros lugares. Alguns vem
das aguas do mar, dos rios e lagos e são muito parecidos com os peixinhos, outros
das florestas e se parecem com passarinhos e bichinhos, e todos são nossos
protetores.
Está vendo porque eu canto tão feliz? Porque cuido
direitinho.
Pedrinho deu um sorriso, um abraço no Seu Zé e foi
para a escola com um novo propósito de cuidar de todos esses “anjinhos da
guarda”.